06 de março
Feriado de carnaval, e ao contrário de praias lotadas e blocos carnavalescos, o noticiário brasileiro foi tomado pela calamidade causada pelas chuvas de verão, que mais uma vez, se repetiu apesar de sucessivos alertas de especialistas.
Além do rastro de destruição por diversos pontos da cidade, o temporal que atingiu várias cidades do litoral norte de São Paulo, destroçou famílias e tirou dezenas de vidas precocemente. Até as 20h00 do dia 25, o total de mortes confirmadas já chegava a 59, mas seguia subindo a todo momento, por conta do grande número de soterrados. De acordo com Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), este foi o maior registro de volume de chuva em 24 horas da história do Brasil.
Para atender as pessoas que vivem em áreas de risco e tiveram que deixar suas casas, foram abertos pontos de apoio. Até as 20h do dia 23, 4.066 pessoas estavam desabrigadas ou desalojadas, segundo a Defesa Civil. Em razão da tragédia no litoral de São Paulo, o governo federal tem anunciado algumas medidas, entre as quais; a liberação de R$ 7 milhões para ações da Defesa Civil em São Sebastião; antecipação de benefícios do INSS para moradores da região; e envio de 75 toneladas de suprimentos por meio de 1,5 mil militares. Nos pontos de apoio, a população recebe o suporte de assistentes sociais, profissionais de saúde, educação, agentes comunitários, além da própria Defesa Civil.
Centenas de bombeiros e policiais participaram das operações no local. Para o socorro das vítimas, os bombeiros também abriram um hospital de campanha com dez leitos. Tais números nos dão a dimensão da mobilização e logística que ocorrências como estas demandam das agências e serviços públicos essenciais em eventos como este.
INFRAESTRUTURA E ATENDIMENTO – O tema dos desastres naturais não é novo, porém, cada vez mais vem ganhando destaque na mídia e no cotidiano da população, à proporção que sua frequência vem aumentando ao longo dos anos e trazendo inúmeras consequências para a vida e saúde das populações (perdas e danos materiais, ambientais ou humanos e a interrupção nos sistemas e serviços).
O aumento na frequência de ocorrências desses eventos pode ser explicado, em parte, pelo crescimento das cidades e intenso processo de urbanização, responsáveis pela ocupação desordenada do solo, degradação ambiental e mudanças climáticas, e, em parte, pelas condições sociais, econômicas, políticas, geográficas e ambientais particulares de cada território
TERRITÓRIOS VULNERÁVEIS – Todos os anos, várias regiões do planeta são atingidas por desastres naturais que afetam, sobretudo, grupos populacionais e territórios mais vulneráveis. No Brasil, essa realidade não tem sido diferente. Diversas cidades sofrem ano a ano com ameaças naturais, principalmente por inundações bruscas e cenários de seca, que, associadas às vulnerabilidades locais, desencadeiam o desastre. Diante desse fato, é necessário agir com medidas estruturais, como viabilizar obras de infraestrutura, desenvolver tecnologias de alerta, e não estruturais, como capacitar profissionais de diferentes áreas para preparação e resposta aos desastres
BAIXADA SANTISTA – No início de março de 2020, um grande temporal causou mortes, deslizamentos e alagamentos na Baixada Santista. Segundo a Defesa Civil e Corpo de Bombeiros foram contabilizados 39 mortos e 41 desaparecidos nas enchentes que atingiram a região naquele ano. Entre as cidades afetadas, Guarujá teve o maior número de vítimas, 27 no total, e lá também estavam os 41 não localizados, todos moradores de comunidades em regiões populares da cidade.
Os números tornaram o desastre natural pior do que a tragédia na barragem de Mariana, em 2015, que vitimou 19 pessoas em Minas Gerais, e uma das mais impactantes das últimas décadas no Brasil.
Neste ano, tudo indica que a cidade de Guarujá estava mais bem preparada para este tipo de ocorrência. O geólogo da Defesa Civil de Guarujá Jozzefer Vincov disse, em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo, que ao todo 125 famílias foram desalojadas, mas foram prontamente atendidas e divididas em alojamentos montados pela prefeitura. A administração municipal afirmou também que apesar do histórico volume 400 milímetros de chuva em 24h, (o maior dos últimos 70 anos) as ocorrências deste ano não produziram vítimas fatais, porém, muitos danos materiais como queda de árvore e deslizamentos nos bairros Vila Maia, Perequê, Sorocotuba e Península; além do morro do Cantagalo.
PREPARAÇÃO E ENFRENTAMENTO – Considerando as características que envolvem esse tipo de evento e suas consequências dramáticas, seria possível afirmar que a ação humana pode agravar as consequências dos desastres naturais, como também, reduzir seus danos? Qual seria o grau dessas interferências? O que de mais relevante as tragédias do passado conseguiram nos ensinar como indivíduos e sociedade? Quais as principais deficiências estruturais existentes a serem superadas? O cenário de desastres tem se repetido em várias regiões, não só do estado de SP, mas no Brasil. Quais seriam algumas das ações de prevenção a serem tomadas pelos municípios para minimizar os danos causados pelas tempestades em locais onde existem ocupações? Se uma chuva como essa que caiu em São Sebastião caísse nos municípios da Baixada Santista, o que poderia ser esperado como consequência? Neste último evento de chuva observamos além dos altos índices pluviométricos, a entrada de ressaca na nossa zona costeira. Os municípios da Baixada Santista estão preparados para lidar com ressacas de maior energia e em maior quantidade? O conceito de CCO´s (centro de controle operacional) ou CIU´s (centro de inteligência urbana) estão perfeitamente integrados aos centros de emergência em desastres naturais no Brasil? Vale para essa reflexão o conceito das smart cities no século 21? O que as experiências de outros países podem nos ensinar?
Para refletir sobre esse tema, o painel o painel INOVAÇÃO E TECNOLOGIA do Protagonismo Regional em Debate abordou no programa de 06 de março de 2023 o tema: SEGURANÇA EM CENÁRIOS DE CRISE | Recursos e Prevenção. Que recebeu como convidados Maria Rita Barros | Geóloga, Mestre em Oceanografia Geológica e Química; Jozzefer Vincov | Geólogo da Defesa Civil de Guarujá; Davdson Abreu |Policial Militar e especialista em Segurança e Ady Wanderley Ciocci | Advogado especialista em Interesses Difusos e Coletivos.
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