A COVID-19 E OS ÓBITOS – Rodolfo Amaral*

Os dados divulgados acerca da contaminação e dos óbitos vinculados à pandemia da Covid-19 precisam ser apurados com absoluto rigor técnico e científico, com o propósito de contribuir de fato para o combate do coronavírus e não causar outros males à população decorrentes da propagação do medo.

As designações utilizadas para a apuração de elementos estatísticos, como “suspeitas e confirmações” têm efeitos diferentes para orientar a propagação do vírus e o seu grau de letalidade.

O número de pessoas contaminas serve para apurar e velocidade da propagação do vírus; indicar um possível estágio de imunidade da população; mas os dados relativos a óbitos são importantíssimos para definir o grau de letalidade da pandemia.

Muitas informações divulgadas até agora, porém, deixam dúvidas de avaliação até mesmo para quem está acostumado a lidar com análise de dados e estatísticas.

Vejamos:

O total de mortes atribuídas à Covid-19, no Brasil, é de 10.984 casos, representando 2,73% dos óbitos registrados em todo o País (401.958 pessoas) entre 1º de janeiro e 9 de maio de 2020;

Este índice, porém, atinge o patamar de 3,48% no Estado de SP, com 3.737 óbitos, no universo geral de 107.455 mortes;

Na Baixada Santista, os óbitos registrados pela Covid-19 alcançaram 170 pessoas, correspondendo ao índice de 3,38% do universo de 5.022 mortes apuradas até agora na região;

Em tese, estes seriam os números oficiais de mortes atribuídas à Covid-19, confrontados com os dados oficiais de óbitos apurados até o momento em todo o território nacional;

Muitas informações divulgadas até agora, porém, deixam dúvidas de avaliação até mesmo para quem está acostumado a lidar com análise de dados e estatísticas.

As disparidades começam a aparecer, no entanto, quando os levantamentos passam a abranger os óbitos registrados com a causa de pneumonia, doença com sintomas muito parecidos com os da Covid-19;

Entre 1º de janeiro e 9 de maio de 2020, conforme dados do Registro Civil, morreram de pneumonia em todo o Brasil 68.401 pessoas, com um índice de evolução de 3,71%, na comparação com idêntico período de 2019;

Em idêntico período, porém, os óbitos de pneumonia no âmbito do Estado de SP alcançaram 21.848 pessoas, com uma taxa de redução de 0,75%, na comparação com 2019.

Outra preocupação a observar são os próprios números brutos dos óbitos gerados por pneumonia, neste período, de 68.401 casos, contra 10.984 casos registrados pela Covid-19;

Não se pode esquecer que o período do Inverno é altamente propício à pneumonia, de modo que o chamado momento de pico da Covid-19, com o modelo de isolamento proposto para combate da Covid-19, por governadores e prefeitos, foi empurrado exatamente para esta época, elevando os riscos de superlotação das unidades hospitalares;

Desta forma, os hospitais de campanha preparados para atendimento da população podem ser insuficientes, o que recomenda, agora, que governadores e prefeitos também façam completa reformulação dos seus orçamentos para dotar a área de saúde de recursos financeiros expressivos para expansão de atendimento.

Em linhas gerais, prorrogamos os picos das doenças para o mesmo período; enfraquecemos a economia com a paralisações de atividades, e, quando mais o Poder Público irá necessitar de verbas para atendimento à saúde pública, menor será a arrecadação de impostos para cobrir as despesas.

Não se pode esquecer, aliás, que apenas 22,4% da população brasileira (ou 47.107.809 pessoas) dispõem de planos de saúde, contingente que deve ser reduzido com o fechamento de milhares de empresas e com o aumento do desemprego.

Rodolfo Amaral* é jornalista, consultor financeiro e sócio diretor da R Amaral Associados e da Data Center Brasil