A minha história não é muito diferente das histórias de outras mulheres que passaram ou passam pelos mesmos dilemas que eu venho encarando todos os dias. Mas o que a torna tão especial e tão única, é que ela é MINHA e, cada conflito vivido e superado me tornou esta jovem mãe solo e atípica que vos escreve e que tenho muito orgulho de ser. Não vou ser hipócrita em dizer que ser mãe de uma criança com Síndrome de Down aos 16 anos me transformou, que me tornei mais responsável, mais madura, que renunciai a festas e diversões para ficar cuidando do meu filho especial. Seria tudo mentira e quando meu filho lesse, provavelmente não se identificaria com a mãe de conto de fadas que eu estaria tentando mostrar aqui.
A verdade foi muito diferente disso, eu continuei fazendo tudo que eu já fazia antes de ser mãe, só que um pouco pior, pois eu me sentia mais adulta agora que tinha um filho. Tolinha! Aos 19 e depois aos 20, vieram os outros dois filhos. E eu, não menos irresponsável do era antes, agora tinha 3 vidas que dependiam de mim. E o que eu fiz? Obviamente que pirei e larguei a responsabilidade da criação dos meus filhos sobre as costas de qualquer pessoa que quisesse assumi-la. Por longos 13 anos, vivi conflitos internos, crises existenciais, conheci o inferno e descobri que os demônios eram todos meus. Não apendi sobre ser mãe, não conheci absolutamente nada sobre meus filhos, quis morrer por isso (até tentei), pensei em abrir mão de tudo e virar uma nômade que vagava por ai ao lado de um cachorro com cor de burro quando foge. A verdade é que minha alma de adolescente predominava ainda.
“Dói revirar gavetas e tirar o mofo das coisas para muda-las de lugar ou descarta-las, para que uma nova mobília seja colocada neste lar que somos nós”
Quis tantas coisas insanas, até querer algo lucido. Quis parar de lutar para sobreviver e, finalmente me dedicar a viver, descobrir minha essência de mãe e mulher, sair de uma adolescência tardia para descobrir as delicias da vida adulta. Quis finalmente descobrir quem eu era longe de tudo aquilo que eu fui uma vida inteira. E foi então que aos 29 anos eu parti, coloquei umas roupas na mochila, peguei as crianças, toda esperança que por alguma razão, que ainda não entendo qual, vivia dentro de mim e fui em busca da maior aventura que já vivi: o encontro com meu EU interior. Descobrir e enfrentar quem somos talvez seja o maior desafio de uma pessoa.
Hoje eu sou a versão mais jovem de todas as outras que ainda serei. E esta versão encontrou a hora certa de recomeçar!
Dói revirar gavetas e tirar o mofo das coisas para muda-las de lugar, ou… descarta-las. Mas é um mal necessário para que uma nova mobília e novos utensílios sejam colocados neste lar que somos nós. Finalmente éramos só nós 4 sem interferências externas. E mesmo que fossem meus filhos, éramos 4 completos desconhecidos que precisariam aprender a conviver em uma kitnet de 40 m². Foi um ano inteiro de medos, vontade de desistir, dificuldades, fome em alguns momentos. Mas tudo sempre superado pela nossa vontade de vencer. E estamos vencendo, dia após dia, um dia de cada vez. Finalmente me sinto começando e não sinto que comecei tarde aos 30! Comecei quando estava certa do que eu queria, mas principalmente de quem não queria mais ser. Hoje eu sou a versão mais jovem de todas as outras que ainda serei. E esta versão encontrou a hora certa de recomeçar! As boas e más histórias, os aprendizados, os dias ruins e os dias incríveis, tudo fez parte de um roteiro que conduziu minha trama até chegar aqui.
“Cada fase teve de mim a versão que eu poderia ser. E mudei várias vezes. Mudei de roupa, de pensamento, de opinião, de discurso”
Mas elas não me definem. Cada fase teve de mim a versão que eu poderia ser. E mudei várias vezes. Mudei de roupa, de pensamento, de opinião, de discurso. A cada vez q eu aprendo me modifico um pouco mais! Essa tal de evolução que eu achei que nunca chegaria, chegou metendo o pé na porta, batendo na minha cara e me fazendo crescer na marra, já que tantas vezes falou com carinho e eu não ouvi!! Acreditar em si próprio é um dos maiores atos de grandiosidade que um ser humano pode cometer.
Mesmo que a corrente não seja favorável, mesmo que nosso nadar seja cansativo e doloroso, acreditar que chegaremos aonde almejamos é o primeiro passo para chegarmos. A luta diária deve ser contra nossa mente sabotadora que insiste em lembrar que somos incapazes. Mas as vozes da nossa cabeça são limitadas às experiências que vivemos, elas remoem diariamente todas as vezes que desistimos, fraquejamos, paramos. A voz sabotadora se alimenta dos nossos fracassos. Quanto mais lutamos pelo Sucesso, menos ela gritará, até que se cale!!! A vida é mesmo feita disso, de superações, de autoconhecimento, de enfrentamento, de perdão… ahh o perdão! Este é imprescindível!!! É necessário perdoar a nós mesmos e entender que tudo que vivemos e fizemos fez parte da construção deste ser incrível que vemos diante do espelho. E pouco importa o quanto erramos. Cada minuto nos da a chance de aprender e sermos alguém melhor do que a pessoa que éramos no minuto anterior. Se eu consegui, você também consegue! Orgulhe-se do processo!
Como diria Confúcio: Quem conhece os outros é inteligente. Quem conhece a si mesmo é iluminado. Quem vence os outros é forte. Quem vence a si mesmo é invencível.