TRABALHADORES SEM TRABALHO – Patrícia Rezende Pennisi

Este mês se iniciou com um feriado, dia 01 de maio, o famoso dia do trabalho ou do trabalhador, uma data que fora estabelecida em decorrência de um movimento de greve, que ocorreu em Chicago, em 1886, quando milhares de trabalhadores reivindicavam a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. No Brasil, a época que marcou o anúncio de medidas de proteção ao trabalhador é conhecida como getulismo e o feriado foi reconhecido em 1924.

Mas o cara que ficou marcado por questionar as altas jornadas de trabalho e as medidas de proteção aos trabalhadores não é destas épocas, é bem anterior a tudo isso, chama-se Robert Owen e é conhecido como o pai do RH, ao menos o primeiro que se tem notícia. Owen vivia em uma sociedade onde as pessoas, inclusive as crianças, trabalhavam cerca de 14 horas por dia e acreditava que as organizações poderiam ser a solução para a eliminação da miséria humana. Para ele, os administradores deveriam assumir o papel de reformadores, e deu bons exemplos em sua trajetória de vida sobre como isso seria possível.

Com base nestes princípios, “construiu instalações industriais que se transformaram em modelo de respeito à dignidade humana e em parâmetro de desempenho operacional” (GONÇALVES, 1995). Mais tarde, concluiu que apenas melhorar as organizações não seria suficiente para obter o engajamento dos empregados, eles teriam que estabelecer relações de compromisso com elas. A história mostra que Owen também estabeleceu a base do que conhecemos hoje como avaliação de desempenho. Isso tudo, por volta de 1816!

Pois bem, chegamos em 2020 e o questionamento que faço é sobre como andam as nossas relações de trabalho, Será que temos motivos para comemorar algo? Ouso dizer que nem mesmo o fato de o feriado ter caído numa sexta-feira tenha sido motivo de alegria para muitas pessoas, vez que muita gente encontrou, além da pandemia de COVID-19, também o amargo sabor do desemprego.

Desemprego este, que muitos estão atribuindo somente à pandemia que estamos vivendo, mas que não tem somente relação com o que este vírus se tornou. Embora esta situação tenha agravado e antecipado algumas demissões, no mundo do RH já era certo que haveria um aumento de desligamentos e muitas substituições de funções.

Já havia previsão de que muitos cargos deixariam de existir e de que outros surgiriam, renovando as relações de trabalho e aumentando o nível de exigências para o preenchimento de requisitos mínimos referentes às vagas que passariam a ocupar o rol das novas profissões, a tal era do conhecimento.

Robert Owen acreditava que as organizações poderiam ser a solução para a eliminação da miséria humana. Para ele, os administradores deveriam assumir o papel de reformadores, e deu bons exemplos em sua trajetória de vida sobre como isso seria possível.

O que não se sabia é que as coisas se modificariam com tanta turbulência, de maneira tão abrupta e exigindo tamanha rapidez para realizar adequações. O home-office não é novo para o pessoal desta área, já era inclusive utilizado por muitas empresas, mas agora ganhou popularidade e está representando a solução para que muitos negócios continuem funcionando.

E aí está a grande questão: alguns negócios continuarão funcionando, independentemente de quanto tempo durar esta pandemia; outros negócios quebrarão, independentemente de retornarmos às atividades rotineiras hoje ou daqui a 60 dias; e, outros ainda, já quebraram. Há negócios mais afetados e negócios menos afetados, mas o que tudo isso tem em comum é o fato de que o contexto que estamos vivenciando deixará marcas e representará o marco de algumas mudanças que estavam previstas para ocorrerem futura e gradativamente, mas que já ocorreram ou ocorrerão forçosamente em decorrência da pandemia.

Uma destas mudanças tem a ver com o fato de que os altos avanços tecnológicos chegaram para ficar e, graças a eles, alguns ainda puderam comemorar o dia do trabalho com um emprego, em home office, mas, também graças a eles, altos custos com folhas de pagamentos, muitos direitos e encargos trabalhistas, más gestões, entre outras coisas, alguns cargos, leiam-se empregos, já vinham sendo substituídos por altos investimentos em tecnologias capazes de eliminarem a necessidade de pessoas.

Na escola de Nova Lanark Owen esperava produzir um tipo completamente diferente de trabalhador.

Quem foi obrigado a investir em tecnologias para se manter vivo durante a pandemia não contratará o mesmo tanto de pessoas que demitiu, assim como, se deu certo manter a produtividade com redução de carga horária, não terá porque aumentar quando tudo voltar ao (a)normal.

Outra delas, agora não necessariamente graças às tecnologias avançadas, consiste no fato de que os contratos em regime CLT entre empregados e empregadores já estavam perdendo espaço para as pessoas jurídicas e, empregados estavam se transformando em empresas. Será que depois que isso tudo passar aumentarão as contratações via CLT?

Há quem diga que a nossa sociedade será marcada por momentos a.C. e d. C. – antes e depois do COVID-19. Vejamos alguns pontos curiosos a.C.:

Tem muita gente, que não encontrando emprego, foi lá e abriu uma MEI, tem muita gente, que não encontrando emprego, foi lá e se descobriu, teve uma ideia, montou uma startup, virou youtuber (e monetizou), gourmetizou alguma coisa, tem até quem tenha virado unicórnio (embora a lista seja pequena).

Tem muita gente, que embora não tenha encontrado um emprego, encontrou um trabalho, algumas vezes até bem mais rentável que um emprego. E trabalha até mais que 14 horas por dia.

Tem muita gente, que embora não tenha encontrado um emprego, ainda tem esperanças em empreender e ter um trabalho, quanto tempo do dia será que se dedica a fazer isso dar certo?

Tem muita gente, que não encontrou emprego e não encontrou um trabalho. E não tem a mínima ideia do que fazer para manter as suas necessidades mais básicas.

E, também tem muita gente, que ainda tem emprego, mas vive com a preocupação sobre como mantê-lo, neste caso, umas 20 horas por dia, 24 talvez?

Por fim, temos trabalhadores sem emprego, trabalhadores sem trabalho e, trabalhadores que só trabalham, quais serão as suas jornadas?

Owen deve estar se revirando, imaginem o que virá d.C.!

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