PROTAGONISMO REGIONAL EM DEBATE “Cada dia aprendemos algo novo no enfrentamento desta crise”

A ex secretaria de saúde de Cubatão esteve na ultima segunda feira (01/06) no programa Protagonismo Regional da Plataforma Protagonismo Cidadão, que debateu o nível de preparação da região para o processo de flexibilização do isolamento, e falou de sua experiência quando esteve na secretaria de saúde durante o enfrentamento da pandemia.

As ações federais confundiram bastante as pessoas, e isso acaba tendo papel decisivo, pois a população tem papel central nesta crise.

A Baixada Santista está prestes a ingressar na fase de flexibilização da quarentena, ou isolamento social, como querem alguns. O pedido foi feito pelos gestores locais ao governo do estado, que ainda mantém a cidade na chamada zona vermelho de restrição. No entanto, a possibilidade de flexibilização trouxe à tona nos últimos dias, a discussão em torno do nível de preparação da região para o processo de flexibilização do isolamento. Afinal, a Baixada Santista está preparada? Fizemos a lição de casa durante esses mais de dois meses de isolamento?

Para Andrea Pinheiro, Ex Secretaria de Saúde de Cubatão , o nível de incertezas que cercam a questão não nos permite respostas definitivas. “Desde o início desta crise estamos trabalhando em projeções que mudam constantemente em razão da falta de conhecimento mais profundo da ciência a respeito deste vírus”. Admitiu.

“A qualidade da resposta a pandemia e nosso nível de vulnerabilidade é medido por um extenso conjunto de variáveis, como número de infectados, leitos de UTI´s disponíveis, quantidade de testes realizados e disponíveis, além do grau de vulnerabilidade da própria população” argumentou.

Para a ex secretaria, as medidas de planejamento e articulação regional foram satisfatórias, mas poderiam ter sido melhores, se em âmbito nacional tivéssemos ações mais claras de enfrentamento.

“As ações federais confundiram bastante as pessoas, e isso acaba tendo papel decisivo, pois a população tem papel central nesta crise”.

O Empresário do setor portuário e comentarista do programa Wladimir Mattos foi mais contundente em sua análise. Para ele, a região não está preparada para essa reabertura, mas não apenas por uma questão estrutural, mas essencialmente por uma questão de cultura.

Estamos vivendo um caos, por que as pessoas que deveriam dar o direcionamento não assumem esse compromisso. O que era ruim vai ficar pior com essa liberação

“Será que nós (sociedade) estamos sendo eficazes em fazer a coisa certa?”  Questionou. Na visão do empresário, no Brasil, ao contrário de outros países as medidas de cuidado e prevenção foram sendo colocadas de lado diante da fragilidade da nossa economia, e agravada pelas disputas políticas, e com os escândalos de corrupção nas compras de equipamentos.    

“Isso tudo corrobora para que a população desrespeite o isolamento. Ontem tivemos um péssimo exemplo na orla da cidade, hoje em São Paulo e até em Brasília, com o presidente. Estamos vivendo um caos, por que as pessoas que deveriam dar o direcionamento não assumem esse compromisso. O que era ruim vai ficar pior com essa liberação” pontuou.

Mattos também destacou que a pressão econômica está fazendo que o país opte pelo CNPJ em detrimento dos CPF´s. Para o empresário a condição econômica do Brasil e a maioria do seu povo, alimentada pelas disputas internas está levando a população a ignorar o exemplo dos países mais ricos.

“Talvez esteja faltando mais solidariedade ao nosso país e mais consciência da população para compreender o cenário” afirmou.

Assista ao programa completo

EPIDEMIA DE TERRORISMO E IRRACIONALIDADE

Na falta de conhecimento sobre a covid-19, o vácuo é ocupado por qualquer coisa que alguém com poder de decidir acha a mais certa

 J.R. Guzzo, O Estado de S.Paulo

13 de maio de 2020 | 13h05

A epidemia de covid-19 não é a que o presidente Jair Bolsonaro quer que seja. Também não é a que deseja a maioria dos governadores, prefeitos e defensores das modalidades mais radicais de quarentena. Não é, em suma, uma “posição”, ou algo que as pessoas possam definir segundo as suas próprias crenças. A covid-19 é o que ela é – e infelizmente, até agora, não foi possível reunir conhecimentos suficientes para saber com exatidão e segurança a sua natureza.

Cientistas, médicos e pesquisadores dos centros mais avançados do mundo não entendem direito com o que estão lidando. Sabem muitas coisas importantes. Mas não sabem outras, importantes também. Passados dois meses desde o início da tragédia no Brasil, continuamos no escuro em relação a pontos essenciais sobre o que vai nos acontecer – temos mais dúvidas hoje do que no começo. O resultado, para os cidadãos e para as autoridades encarregadas da saúde pública, é essa imensa angústia que está aí.

Se quem está mais qualificado para se manifestar e agir sobre a epidemia não dispõe das certezas necessárias para deter a sua escalada de mortes e sofrimento, parece que deveria haver por parte de todos os outros um pouco mais de humildade ao tratar do problema. É tudo o que não existe no momento. Quanto mais se ignora as questões-chave da doença, mais extremadas ficam as convicções sobre ela e as ações públicas determinadas pelos governos. Qualquer médico sério, que vive há dois meses dentro de uma UTI tratando de pessoas que morrem ou sobrevivem em sua presença, dirá que não pode explicar com certeza científica por que a doença age de uma maneira ou de outra. Mas o guarda da esquina sabe  – ou a autoridade que manda nele, e cuja ignorância é basicamente igual.

Está aí a causa para o clima de terrorismo, irracionalidade e destruição em que o Brasil vive hoje – na falta de conhecimento, o vácuo é ocupado por qualquer coisa que alguém com poder de decidir acha a mais certa. Acrescente-se aí o interesse político evidente de muitos dos atuais gestores da epidemia em tirar proveito pessoal da desgraça, e uma corrupção agressiva nas despesas para combater o vírus – não há licitação pública nessas compras e contratos – e temos todos os ingredientes para uma tempestade perfeita.