20 de fevereiro de 2023
Uma pesquisa publicada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2019 concluiu que a diversidade de género pode gerar até 20% de crescimento nos lucros, em um universo que abrangeu 13 mil empresas em 70 países. Mais de 57% dos entrevistados concordaram que as iniciativas de diversidade de género melhoraram os seus resultados; Quase três quartos das empresas que dão prioridade à diversidade de género na sua gestão, relataram aumentos dos lucros entre os 5% e os 20%. A maioria registra um crescimento entre os 10% e os 15%; Para 57% delas, uma maior participação feminina em cargos de liderança torna mais fácil atrair e reter talentos e mais de 54% viram melhorias na criatividade e na inovação; Ainda segundo o relatório, uma proporção semelhante afirmou que a inclusão efetiva de género aumentou a reputação da sua empresa.
DIFERENÇAS CULTURAIS – O relatório analisou, por regiões, a percentagem feminina em posições de gestão e liderança. Na África, dos 28 países que participaram do estudo, Cabo Verde foi o segundo com maior percentagem de mulheres em posição de liderança. Moçambique na 20ª e Angola em 26º lugar. Nas empresas avaliadas na Europa, Portugal foi a vigésimo com mais participação de altos quadros femininos dos 47 países avaliados. No Brasil, o ranking global elaborado pelo International Business Report da Grant Thornton, apontou que após o salto de 5% em conquista de cargos no alto escalão em 2021, as mulheres perderam 1% dos postos executivos nas empresas brasileiras de médio porte, caindo para 38% em 2022. No entanto, o índice ficou 13 pontos percentuais (p.p.) acima dos 25% registrados em 2019. O Brasil passou a ocupar o quarto lugar, atrás da África do Sul (42%), Turquia e Malásia (40%) e Filipinas (39%), mas se mantém a frente da média da América Latina (35%) e da global (32%).
Das mais de 250 empresas brasileiras pesquisadas, 6% afirmaram não manter nenhuma mulher em cargos de liderança, muito abaixo dos 48% do Japão, 33% da Coreia do Sul e 22% da Grécia, por exemplo, e abaixo também das médias global (10%) e da América Latina (11%).
No pico, em 2015, esse índice chegou a 57% aqui no país. Com relação aos cargos, a pesquisa mostra que 35% dos postos de presidente executivo (CEO), no Brasil, são ocupados por mulheres, 1 p.p. abaixo do ano passado, mas 11 p.p. acima da média global de 24%. No cargo de liderança Financeira (CFO) houve uma alta de 4 p.p., passando para 47% este ano. Os índices se mantiveram os mesmos de 2021 nos cargos de liderança de Operações (COO), com 28%, e sócia (4%).
Na prática, o que estes estudos podem nos revelar sobre a mulher do século XXI? Seus papeis sociais e profissionais e sua qualidade de vida?
EMPODERAMENTO FEMININO – Com o crescimento do termo empoderamento feminino, um número crescente de mulheres trocou ambiente de casa, onde era mais atuante nos cuidados com os filhos, com o lar e com o marido e passou a ser de fato inserida na sociedade e no mercado de trabalho, com direitos e deveres que durante séculos foram atribuídos aos homens.
Com este convívio “igualitário” entre homens e mulheres, a tendência era mesmo que a mulher ficasse sobrecarregada exercendo tantos papéis, e foi isso que aconteceu. Além de todos os afazeres domésticos que a sociedade em sua grande maioria ainda atribui apenas como obrigação feminina, a mulher precisou também dar conta do trabalho fora de casa e de manter-se equilibrada mesmo em seus dias de TPM. Com isso, o empoderamento acabou virando um martírio, onde a mulher abdica muitas vezes do autocuidado para manter todo o resto em ordem.
No cenário atual de sobrecarga, os danos causados pelo acúmulo de tarefas e suas consequências já são percebidos: Depressão, transtornos do sono e o abuso de ansiolíticos estão entre eles. É possível observar os efeitos negativos no comportamento das mulheres, que cada vez mais procuram por especialistas devido a problemas decorridos do estresse, doenças psíquicas, respiratórias, de pele, inflamações nas articulações e dores musculares.
A mulher passou a desempenhar um papel sobre-humano executando inúmeras funções. O empoderamento acaba dando uma visão distorcida à figura feminina, que se sente pressionada a abraçar o mundo inteiro para si, levando seu corpo e mente ao limite da capacidade humana.
RESSIGNIFICANDO A FIGURA MASCULINA – Como em qualquer cenário da natureza, uma ação por menor que seja, sempre pode levar a uma reação em cadeia. Com a inserção das mulheres no mercado de trabalho e seu avanço por áreas que eram tidas apenas como masculinas, os homens também precisaram adaptar-se a esta nova maneira de existir. E se antes, as tarefas domésticas e criação dos filhos era uma obrigação apenas da mulher, essa realidade mudou quando o casal passou a ficar a mesma quantidade de tempo na rua trabalhando e, consequentemente as tarefas de casa teriam que ser dividias também. O homem que antes apenas precisava preocupar-se em prover o sustento do lar, agora precisou aprender a cozinhar, organizar a casa e cuidar dos filhos. No debate sobre o tema há quem busque por uma inversão de valores. Há quem busque a relativização dos papéis, com a submissão masculina, ou o resgate de uma dívida histórica. Mas há quem defenda apenas uma evolução civilizatória, de cooperação mútua entre os papeis, sem rivalidades, sem sobrecargas de nenhuma das partes, mas de compreensão e equilíbrio complementar, onde a participação dos homens no debate se torna fundamental. Seria possível alcançar algum equilíbrio?
De fato, durante muitos séculos as mulheres foram vistas como objetos de posse, que passava das mãos do pai direto para a mão do marido, a quem devia obediência e subserviência. Suas qualidades resumiam-se a saber todos os afazeres domésticos e ser uma boa esposa e mãe. As mulheres observaram por anos seus maridos sendo bem sucedidos em suas respectivas profissões, enquanto ela própria vivia escondida na sombra do sucesso de seu parceiro.
Com o passar do tempo, a mulher tomou posse de seu corpo e de seu espaço na sociedade, entendeu que poderia prover seu sustento e que um homem para estar ao seu lado teria que ser digno de sua grandiosidade e ter coragem de fazer em parceria tudo que ela descobriu que poderia fazer sozinha. Com isso, a procura dos homens por assuntos que antes eram tidos apenas como femininos vem crescendo, além de estarem se cuidando muito mais e, os velhos maridos com aquele estereótipo barrigudinho, bigodudo, com um cigarro no bolso foi dando espaço a homens com a aparência cada vez melhor e outros atributos que antes não eram tão essenciais.
PROTAGONISMO FEMININO – O que é protagonismo feminino? Estar no comando? No centro das decisões? O empoderamento feminino responde a estes questionamentos? Qual a relação desta nova ordem cultural ao estereótipo de mulher como super-heroína? Seria o Protagonismo a posse da mulher daquilo que é seu de direito? A demarcação do posicionamento da mulher em sociedade, ou a identificação dos direitos e das possibilidades sociais que ela tem? Seria o Protagonismo Feminino uma atitude em desmerecer a figura do homem? Ou apenas sobre entender o valor do papel de cada gênero na sociedade, sem competições doentias ou jogos emocionais? Até que ponto o protagonismo das mulheres é respeitado? Qual o papel dos homens neste respeito e na transição desta nova sociedade? Podemos afirmar que a sobrecarga dos tempos atuais afeta a vida de quem convive com esta mulher? Como os homens estão reagindo a estas mudanças de comportamento feminino? A mulher pode afirmar que conquistou o direito sobre o próprio corpo? O homem ainda se sente intimidado por esta geração de mulheres protagonistas? Nossa sociedade está diante do dilema de dois estereótipos: a supermulher ou a cinderela?
Para refletir sobre esse tema, o painel GOVLOC do Protagonismo Regional promoveu no programa do dia 27 de fevereiro o debate: PROTAGONISMO FEMININO | Muito Além de Cinderelas. Que recebeu como convidados: Carla Franco | Publicitaria e Ariana (sim, achei importante destacar o signo) Eliane Domingues | Consteladora Familiar e Terapeuta Integrativa; Larissa Forjanes | Gestora de Negocios e empresária; Tati Souza | Palestrante Especialista Comportamental;
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