PORTO CIDADE – Túnel Santos-Guarujá: Por que a sociedade apoiaria esse projeto?

A ideia de se construir uma ligação seca subaquática entre Santos e Guarujá nasceu ainda no fim do século XIX, e não avançou pelas mais diversas razões. Nos dias atuais, questões de ordem política, jurídica e até financeira emperram aquela que é defendida por vários especialistas em logística como obra mais importante da região neste século.  Na esteira deste impasse, um pool de empresas, com apoio da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos, lançou no fim de setembro, em coletiva de imprensa virtual, a Campanha “Vou de Túnel”, com o objetivo de conquistar o apoio da sociedade civil pela concretização da obra. O Movimento conta com a participação dos maiores especialistas em túneis do Brasil, tendo como porta-voz, o engenheiro Eduardo Lustoza.

Por que a sociedade apoiaria esse projeto? Quantos países demonstraram interesse através de suas empresas em participar da obra? Há alguma promessa de transferência de tecnologia para a engenharia brasileira? De onde virão os recursos para a construção do túnel? Para refletir sobre esses assuntos entender como e porque a sociedade civil deve participar, o Live Protagonismo Regional em Debate, deste dia 12 de outubro recebeu Eduardo Lustoza, Ex-Diretor da AEAS e Porta Voz do Movimento “Vou de Túnel”, Hélio Halite, Professor Universitário e Engenheiro especialista em Logística, Adilson Gonçalves, Professor Universitário, Engenheiro e Colunista do programa e Richard de Oliveira, Presidente da Comissão de Direito e Relações Internacionais da OAB Santos

UM SÉCULO DE ATRASO

A ligação-seca entre as margens do Canal do Estuário, seja Santos-Santos, seja Santos-Guarujá tem uma história de quase cem anos.

A primeiro proposta efetiva consta ser de 1927, um túnel que previa até passagem de bonde elétrico. Depois, vieram outros estudos e propostas de localização de até mais de uma ligação-seca, ora por pontes, ora por túneis. Algumas, caso tivessem sido construídas, já teriam sido demolidas, em função da evolução do tamanho e tráfego de embarcações. Isso prova que qualquer solução deve projetar cenários futuros.

Algumas soluções do tipo ponte foram vendidas como “cartões postais”, mas o mais recorrente era que os assuntos sempre eram abordados em períodos eleitorais.

O estudo mais adiantado foi o realizado pela DERSA que, em 2014, dispunha de projeto-executivo licenciado, prevendo um túnel subaquático com 762 metros de extensão, 950 metros de rampas e cerca de 4,5 km de obras viárias em superfície e em viadutos, ligando os bairros de Macuco, em Santos, e Vicente de Carvalho, em Guarujá.

Esse túnel estava orçado em R$ 2,4 bilhões, sendo R$ 962 milhões para as obras do túnel; R$ 506 milhões para as obras viárias em Santos; R$ 532 milhões no viário do Guarujá; R$ 362 milhões para desapropriações e reassentamentos; R$ 78 milhões para projetos; e R$ 15 milhões para compensações ambientais.

Mas não houve a esperada contrapartida do Governo Federal, e a obra foi suspensa. A posterior crise econômica inviabilizou a utilização de recursos públicos.

Hoje, a partir da proposta de construção de uma ponte, pela Ecovias, a discussão sobre o tema voltou à baila, com força ainda maior.

Para o engenheiro, professor universitário e colunista da Plataforma Protagonismo Cidadão, Adilson Gonçalves, o problema não é mais técnico, mas político, jurídico e financeiro. Gonçalves afirma que assim como nos tempos pioneiros de Prestes Maia, um projeto não pode ter vida curta, ainda mais considerando a importância do complexo portuário para a região e país.

“Não se sabe, com certeza quando os navios ainda vão aumentar de porte, e hoje já existe a limitação aérea do linha de transmissão da Usina de Itatinga”. Mas estudos da USP indicam que a máxima profundidade economicamente viável para o Canal do Estuário é de 17 m. “O assunto é polêmico e as variáveis envolvidas são muitas.

O importante é que qualquer que seja a solução adotada, ela atenda aos interesses atuais e futuros de todos os entes envolvidos” Afirmou.

“Fala-se em mais de 10 mil cidadãos da região metropolitana com esse sofrimento, de ir e vir no maior Porto da América Latina.  Além das duas pistas do túnel, uma câmera central pressurizada, que prevê a passagem de pedestres, ciclistas, com uma travessia de menos de 5 minutos”.

Eduardo Lustoza

MINISTRO PREFERE TÚNEL

O Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes, se posicionou contra o atual projeto de construção da Ponte Santos-Guarujá, no litoral de São Paulo. Durante um evento virtual organizado pelo Grupo Tribuna, em 26 de agosto, ele disse que o Governo do Estado está reformulando o projeto a fim de atender as questões portuárias, mas acredita que a construção de um túnel seria o ideal para não prejudicar a navegação do maior porto do Brasil. “A priori, ponte não combina com o porto. E não combina mesmo. Eu não posso querer uma ponte que prejudique as manobras, que esteja localizada em uma área de evolução, isso não condiz com o maior porto do hemisfério sul. A gente tem que ter um cuidado com o Porto, que é um patrimônio que nós temos”, disse o ministro em entrevista ao jornalista Leopoldo Figueiredo.

FUTURO

Movimento Pretende Mobilizar A Sociedade

Em participação no Protagonismo Regional em Debate o Porta Voz do Movimento Vou de Túnel e ex-diretor da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos Eduardo Lustoza afirmou que a obra prevê a construção de três pistas para o Guarujá e três pistas de retorno, conectando as duas cidades e as marejes direita e esquerda do maior porto do país. Em seu argumento, Lustoza chama a atenção para o fato da comunidade de um modo geral se enfileirar na travessia de balsas, que realiza cerca de 30 mil travessias diárias de veículos, além de 8 mil ciclistas. “Fala-se em mais de 10 mil cidadãos da região metropolitana com esse sofrimento, de ir e vir no maior Porto da América Latina.  Além das duas pistas do túnel, uma câmera central pressurizada, que prevê a passagem de pedestres, ciclistas, com uma travessia de menos de 5 minutos”. Argumentou.

“Entre 1825 e 1843, os ingleses inauguraram o primeiro túnel submerso para ligar as margens do rio Tamisa. Cinquenta anos depois, Charles Muller trouxe o futebol para o Brasil; Nós aprendemos a jogar futebol, e não aprendemos a fazer túnel” (submerso)

Hélio Halite

“Nós enxergamos isso como um passivo dos governos estadual e federal, e uma obrigação em devolver para o cidadão das cidades e da região metropolitana essa obra de arte tão importante para o cidadão, para o trabalhador portuária e para a polução de do geral” afirmou Lustoza.  

O professor e especialista em Logística e Gestão Portuária Hélio Halite fez um resgate histórico para contextualizar sua defesa em relação a construção do Túnel. “Entre 1825 e 1843, os ingleses inauguraram o primeiro Túnel submerso para ligar as margens do rio Tamisa. Cinquenta anos depois Charles Muller trouxe o futebol para o Brasil; Nós aprendemos a jogar futebol, e não aprendemos a fazer túnel” (submerso) provocou Halite.

“A tecnologia já existe no mundo; é possível sim fazer um túnel sem perfuração há 60 metros. E essa tecnologia está sendo proposta para ser executada aqui por diversas empresas”

Adilson Gonçalves

Para o professor e Engenheiro Adilson Gonçalves, o túnel projetado em 1927, já previa a circulação de bondes elétricos, o que pelas condições de hoje permitiria a passagem do VLT.   Gonçalves destacou que a tecnologia atual não envolve a perfuração de rocha, o que permite a exceção de tuneis com módulos pré-fabricados, colocados em solo preparado, como os exemplos da ligação entre Dinamarca e Suécia, onde os módulos foram fabricados em galpões climatizados e depois transportados ao local da obra e afundados e posicionados.

“A tecnologia já existe no mundo. E possível sim fazer um túnel sem perfuração há 60 metros. E esse tecnologia está sendo proposta para ser executada aqui por diversas empresas” argumentou Gonçalves.

Gonçalves entende que a ligação seca precisa ser feita, pois hoje o tempo de ligação por terra de uma margem a outra em condições normais de transito é de cerca de 40 minutos, sendo que a outra opção seria a ligação por balsas, e que com o aumento da circulação de embarcações no porto, que segundo estudos da SPA em alguns anos teremos um transito tão intenso de embarcações que praticamente inviabilizará o uso das balsas. “A grande equação que precisamos resolver são as questões de ordem política, jurídica e financeira, já que do ponto de vista técnico é praticamente inquestionável que a solução túnel seria a mais interessante” pontuou.

“A inclusão da linha do VLT acrescentará um custo estimado em 400 milhões de dólares a obra. A solução por corredor de onibus talves seja a mais adequada”

Richard Geraldo de Oliveira

CAMPANHA PRETENDE CONQUISTAR APOIO DA SOCIEDADE

O presidente da Comissão de Direito e Relações Internacionais da OAB |Santos Richard Geraldo de Oliveira também defendeu a construção do túnel como a melhor opção técnica em relação a ponte defendida pelo governo estadual, mas fez uma ressalva: “A inclusão da linha do VLT acrescentará um custo estimado em 400 milhões de dólares á obra. A solução de corredores do ónibus talvez seja a mais adequada” argumentou.

Durante o programa Eduardo Lustoza explicou parte da estratégia que pretende mobilizar a sociedade em torno da aprovação e viabilização do projeto que necessitará de aporte financeiro do governo federal, o maior beneficiário de arrecadação dos impostos gerados pelo Porto. Lustoza pede que as pessoas acessem o site www.voudetunel.com.br e assinem a p0etição pública em apoio ao projeto. De acordo com Luztoza, a meta é atingir 20 mil assinaturas. Ele também destacou que as empresas do setor portuário e outras organizações interessadas na ligação seca manifestem apoio ao túnel, de forma a fortalecer a pressão por sua viabilização.

Assista ao programa completo

live Protagonismo Regional em Debate, promovido e organizado pelo Movimento Protagonismo Cidadão é transmitido pelo Youtube, Facebook e Instagram todas as segundas feiras, a partir das 19h30h.

Programa 21 de 12 de outubro de 2020

Painel de PORTO CIDADE

Tema – “Negócios Sociais Como Fatores de Aceleração da Economia Criativa”

Apresentação, Sérgio França Coelho

SOBRE OS CONVIDADOS

EDUARDO LUSTOZA, Engenheiro, Ex-Diretor da AEAS e Porta-Voz do movimento “Vou de túnel”

HÉLIO HALITE, Professor Universitário e Engenheiro especialista em Logística, Gestão, Desenvolvimento e Tecnologia Portuária. Consultor responsável pelo desenvolvimento do “Estudo de Viabilidade Técnica e Logística para a ligação por túnel submerso entre Santos e Guarujá”, em substituição ao sistema de balsas (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo-2008). Mestrado em Ecologia e Meio Ambiente. Áreas de Concentração: Sistemas Sustentáveis – Auditoria Ambiental. Dissertação: Impactos Ambientais do Sistema de Balsas – Diferenciais da Construção do Túnel Imerso.

ADÍLSON GONÇALVES, Professor Universitário, Engenheiro, escritor e Colunista e comentarista do Painel Porto Cidade, colaborador de conteúdos da Plataforma Protagonismo Cidadão.

RICHARD GERALDO DIAS DE OLIVEIRA, Presidente da Comissão de Direito e Relações Internacionais da OAB Santos, Membro Comissão de Relações Internacionais OAB SP, Membro da Comissão de Ciências e Tecnologia da OAB Pinheiros.

Saiba mais sobre o projeto do Tunel ssubmerso de ligação entre Santos-Guarujá atualizado pela Autoridade Portuária de Santos