13 de janeiro de 2023
Desde 1999, com a derrocada da chamada “âncora cambial”, em que o dólar barato funcionava como a grande referência de preços e controle da inflação, o Brasil adotou o sistema de metas de inflação. Ele é relativamente simples, pois o centro do modelo exige que o Banco Central faça o acompanhamento rigoroso da inflação para verificar se sua projeção para o final do ano é superior ou inferior a uma meta pré-definida e, assim, altere a taxa de juros para cima ou para baixo. Se, no caso mais usual e mais grave, a projeção anual da inflação estiver acima da meta, o Banco Central eleva os juros para conter a demanda das famílias por consumo e das empresas por investimentos.
Com a aprovação da PEC da Transição que estourou o teto de gastos no final de 2022, e os sinais do novo governo de mudança do arcabouço fiscal do País, os principais analistas de mercado passaram a apontar um risco crescente de que o Banco Central não só voltaria a aumentar a taxa Selic em 2023, como precisaria manter os juros em nível mais alto por longo tempo.
“O aumento mais forte dos gastos sugere um risco para o IPCA e, consequentemente, para a política monetária”
Solange Srour
Um destes analistas na época, foi a economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour, que previu uma expansão fiscal de R$100 bilhões em dois anos com o novo governo. “O aumento mais forte dos gastos sugere um risco para o IPCA e, consequentemente, para a política monetária” Declarou ao portal infomoney no final de dezembro. Em contraponto, o artigo publicado no portal Campo Grande News do professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS – Flávio Benevett Fligenspan afirma que a inflação brasileira atual não é causada por uma atividade em alta, mas, sim, por aumentos de custos determinados tanto pela economia internacional como por problemas internos.
No que se refere aos internacionais, a pandemia já havia trazido pressões, como o aumento de preços de várias commodities – minerais, energéticas (combustíveis) e agropecuárias –, cenário agora agravado com a invasão da Ucrânia. Outro fenômeno que surgiu com a pandemia foi a escassez de semicondutores para a produção industrial, especialmente diante da mudança da demanda mundial de serviços para produtos industriais em função da necessidade de distanciamento social. Estudar e trabalhar em casa exigiu ajustes, algumas reformas e compra de novos e mais potentes equipamentos, estimulando alguns setores específicos de bens duráveis. Houve também uma crise no sistema de transporte marítimo e a consequente elevação de custos. “Todos esses elementos ajudaram a aumentar a inflação no mundo, com repercussões inevitáveis nos custos de produção no Brasil” Argumentou.
“O cenário financeiro do poder público é crítico, as demandas sociais crescem sem controle e a única alternativa para combater este cenário é o crescimento econômico”
Rodolfo Amaral
INSENSATEZ – Para o consultor financeiro Rodolfo Amaral o Governo Federal não conseguirá controlar a economia com teses desconexas às leis de mercado ou apenas com bravatas políticas. “O cenário financeiro do poder público é crítico, as demandas sociais crescem sem controle e a única alternativa para combater este cenário é o crescimento econômico”. “Nenhum país cresce sem planejamento prévio e alicerçado em fundamentos claros e objetivos” escreveu em suas redes sociais. Amaral também destacou que com juros elevados, a inflação vai acelerar, o consumo deve cair e com isto vem o desemprego, a queda de arrecadação e a redução de receitas tributárias. A campanha política já acabou. Chegou a hora de alinhar diretrizes de gestão e executar as promessas feitas na eleição” escreveu.
DESAFIOS FISCAIS – Outro ponto destacado em artigo recente de Amaral é o déficit da previdência. “Não bastassem os indicadores caóticos, o déficit anual do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) avançou em R$210 bilhões, em valores atuais, com a ampliação do universo de aposentados e pensionistas em 13,6 milhões de beneficiários. E, da mesma forma, para cobrir o pagamento das aposentadorias e pensões dos servidores públicos federais, a União precisa aportar para seu regime de previdência, anualmente, mais R $100 bilhões, por insuficiência financeira “, pontuou. O especialista destaca que apesar de todos estes fatores conjunturais, o atual governo assume o comando do País como se tudo fosse igual ao encantado mandato inicial. “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acha que mudar a nomenclatura de gastos sociais para investimentos vai acrescer algum centavo nas receitas públicas ou diminuí-lo nas despesas; assim como promete colocar os pobres no Orçamento da União e os ricos no Imposto de Renda, sem expor o menor fundamento econômico e a relação causa e efeito”.
MANIFESTO DESENVOLVIMENTISTA – Endossando as críticas feitas pelo presidente Lula à política monetária contracionista do BC, economistas representantes do pensamento econômico desenvolvimentista encabeçaram e assinaram o manifesto “Taxa de Juros para a Estabilidade Duradoura: manifesto de economistas em favor do desenvolvimento do Brasil”. Puxado por economistas como Luiz Carlos Bresser-Pereira, Monica de Bolle, Luciano Coutinho, Luiz Gonzaga Belluzzo e Antonio Corrêa de Lacerda, o manifesto contava, até esta segunda-feira, 13, com mais de 2.400 assinaturas.
O debate tomou várias direções na imprensa. Alguns especialistas entenderam que o debate iniciado por Lula é legítimo, mas que o timing da discussão não seria o mais correto e que antes seria preciso estabelecer um conjunto de regras fiscais, como vem prometendo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Outros disseram que Lula está correto, que a taxa nominal de juros está fora do lugar, e uma outra linha demonstrou contrariedade diante das palavras do mandatário, alegando que o embate é contraproducente e que, no fim do dia, seria ruim para o próprio governo.
Amaral também afirmou que no Congresso Nacional, os discursos continuam genéricos. “A promessa consensual do Governo e do Congresso, agora, é debater uma reforma tributária para simplificar o sistema de tributação, sem alterar a carga fiscal e sem corrigir as distorções da partilha de impostos”. “O governo não esboça um plano de desenvolvimento de médio e longo prazos e o Congresso é complacente com a adoção de medidas paliativas que alastram o caos.
Diante deste cenário a sociedade questiona: A classe política quer resolver de fato o problema? Na média, a população brasileira consegue compreender os riscos sociais que representam a volta da inflação? O setor privado se beneficiaria com a volta da inflação como defendem alguns? Onde deveria estar o foco da pressão popular por medidas responsáveis do governo?
Para refletir sobre esse tema, o painel Porto-Cidade-Indústria, do Protagonismo Regional em Debate promoveu no programa desta semana o debate: POLÍTICA ECONÔMICA | Corremos riscos de volta da inflação? Que recebeu como convidadas: Rodolfo Amaral | jornalista e consultor econômico; Antonio Lawand |Advogado e Professor Universitário e Pedro Pustiglione |Empresário e Consultor Financeiro.
CONFORA O PROGRAMA NA ÍNTEGRA
SOBRE OS CONVIDADOS
RODOLFO AMARAL | Jornalista, consultor financeiro, já foi secretário de finanças das cidades de Santos, Guarulhos e São Vicente. É sócio-diretor da R Amaral Associados e da Data Center Brasil, colunista e comentarista do Jornal A Tribuna e do Protagonismo Cidadão.
PEDRO PUSTIGLIONE |Empresário e Consultor Financeiro, sócio-diretor da Phinncer Portal de Educação Financeira, Colunista, Comentarista e Analista de assuntos de mercado do Protagonismo Cidadão.
ANTONIO ELIAN LAWAND JR. | Bacharel, Mestre e Doutor em Direito pela Universidade Católica de Santos (Brasil). Pós-Graduado (Lato Sensu) em Pedagogia pela Universidade de Tampere (Finlândia). Professor Universitário e Advogado nas áreas de Meio Ambiente, Porto e Mar.
ASSISTA TAMBÉM
PORTO | CIDADE | INDUSTRIA MERCADO DE CONSTRUÇÃO | Desafios para a Baixada Santista em 2023
Convidados: Carlos Meschini: Diretor Regional do Secovi André Ursini: Empresario Pedro Pustiglione: Empresario e Economista
SOBRE O PROGRAMA
A Plataforma Protagonismo Cidadão, iniciativa não governamental e apartidária, é uma rede apoiada por empresas, comunidade acadêmica e terceiro setor, fundada com objetivo de apoiar a iniciativa cidadã como verdadeira protagonista do desenvolvimento da sociedade. Nossa plataforma se auto-define como uma visão, selo e canal de informação. Uma Plataforma de Conteúdo, um Clube de Negócios e um Canal de Comunicação.
ENTREVISTAS E DEBATES SOBRE A REGIÃO
O programa Protagonismo Regional em Debate, apresentado pelos consultores e fundadores da plataforma Sergio França Coelho e Lucia Helena Cordeiro é produzido pela equipe de comunicação da Plataforma Protagonismo Cidadão, e teve seu primeiro programa veiculado em 30 de maio de 2020. Conta com a participação de especialistas e lideranças de setores diversos. Com duração de 60 minutos, as entrevistas e debates são pautados na identidade e vocações econômicas da região. As transmissões são feitas ao vivo pelas plataformas digitais da internet (Lives), com apresentação e condução das entrevistas feitas por Sérgio França Coelho e Lúcia Helena Cordeiro.
PARTICIPAÇÃO CIDADÃ NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO
O objetivo central dos debates é colaborar com a retomada do protagonismo político e econômico da região no cenário nacional, através da melhor exploração de suas vocações, e na criação de uma cultura de participação mais proativa da sociedade sobre temas ainda hoje circunscritos às áreas política, empresarial e estatal.
CANAIS DE TRANSMISSÃO
Para atingir estes propósitos, este projeto tem apostado em estratégias multiplataformas de redes sociais (canais do Youtube, Facebook e Instagram do Protagonismo Cidadão e do jornal Diário do Litoral), utilizando linguagem atraente a diferentes públicos, mas com foco especial no público de 35 a 55 anos, disposto ao debate crítico quanto aos desafios da vida nas cidades.