Graças às iniciativas dos moradores da favela, taxa de mortalidade por Covid-19 é menor do que no resto da capital paulista. Em outras regiões pobres, porém, o cenário é diferente
A favela de Paraisópolis, em São Paulo, tem melhor controle da pandemia de Covid-19 do que outros bairros da capital paulista. Em 18 de maio de 2020, a taxa de mortalidade pelo novo coronavírus na região era de 21,7 pessoas por 100 mil habitantes, enquanto a média municipal era de 56,2. Os números são do Instituto Pólis, organização da sociedade civil que realiza pesquisas no Brasil e no exterior.
“Desde a confirmação dos primeiros casos em São Paulo, logo em março, a associação de moradores de Paraisópolis desenvolveu estratégias para suprir a falta de políticas públicas para a comunidade”, explicam os responsáveis pelo estudo em um relatório publicado em junho.
Logo no início da pandemia, os moradores da favela criaram o sistema de “presidentes de rua”, em que uma pessoa de cada rua ficou responsável por monitorar e ajudar as outras, orientando sobre os sintomas da doença, distribuindo cestas básicas e até combatendo a disseminação de fake news.
Com mais de 70 mil habitantes, a densidade demográfica de Paraisópolis chega a 61 mil hab/km².
Além disso, a comunidade contratou ambulâncias para atender os sintomáticos e recrutou médicos e enfermeiros para suprir a favela 24 horas. Outros 240 moradores foram treinados como socorristas para apoiar as 60 bases de emergência criadas com a presença de bombeiros civis.
Com mais de 70 mil habitantes, a densidade demográfica de Paraisópolis chega a 61 mil hab/km². Tendo isso em vista, a associação de moradores pediu ao governo estadual para utilizar duas escolas públicas como centro de isolamento de pessoas infectadas. A medida possibilitou que os sintomáticos se isolassem de forma eficaz, sem colocar pessoas próximas e familiares em perigo.
Sem esperar ajuda do governo, Paraisópolis contrata médicos contra COVID-19
Para os pesquisadores, as ações tomadas pelos moradores de Paraisópolis deixam claro que iniciativas de atenção básica à saúde e ações voltadas para garantir a segurança alimentar e outras despesas são essenciais em tempos de pandemia. “A favela, apesar das condições de precariedade e vulnerabilidade, tem sido eficiente em baixar a média de mortalidade do distrito como um todo”, afirma o relatório.
Escolas de Paraisópolis transformadas em áreas de isolamento
Outras regiões, outra realidade
Enquanto em Paraisópolis a situação parece estar menos preocupante, em outras regiões pobres da capital paulista o cenário não é o mesmo. Um documento divulgado também neste mês pelo Instituto Pólis indica que as áreas com maior situação de precariedade urbana são as mais castigadas pela Covid-19. As mais afetadas são Brasilândia, Sapopemba, Grajaú, Capão Redondo e Jardim Ângela.
Dentre as explicações para isso está a impossibilidade de distanciamento social, tanto pela alta densidade demográfica quanto pelo fato de que os trabalhos exercidos pelos moradores dessas regiões não pemitiram que ficassem em casa. a precariedade do saneamento básico, a baixa renda e a falta de acesso à saúde também contribuem para a realidade preocupante.
Em relação às taxas de óbitos a cada 100 mil habitantes, o mapa de Covid-19 se concentra em outras regiões de São Paulo, nos bairros Pari, Brás, Belém, Campo Belo e Limão. “Por haver mais pessoas morando nas regiões periféricas, o maior número de mortes absoluto pode fazer com que se pense que apenas a periferia está vulnerável”, disse Danielle Klintowitz, do Instituto Pólis, em comunicado. “Mas há de se analisar o contágio em territórios precários mais centrais para que a situação não fuja do controle.”
Fonte: Revista Galileu – https://revistagalileu.globo.com/