OS MEIOS QUE SERVEM AOS FINS | Artigo da Renia Candreva

Vivemos em uma sociedade mecanizada e minimalista, orientada cada vez mais
pela Lei do Menor Esforço e da busca exclusiva por resultados financeiros. O produto
do negócio, considerado muitas vezes objetivo prático de todo empreendimento,
perde a beleza da realização e a riqueza dos ganhos obtidos no processo em si.
Sempre que uma etapa é vencida e uma conquista findada, um novo desafio de
metas é apresentado, e assim o ciclo recomeça, sem ao menos nos questionarmos
seus propósitos e aprendizados que superamos no caminho.
Apesar da inegável importância das metas alcançadas estamos caminhando a
cada dia mais distantes da compressão dos propósitos que orientam nossas
carreiras. De nossa capacidade de mudança e de criação. De nossa coragem para
superar os desafios apresentados todos os dias no mundo corporativo. Afinal, qual
é o espaço disponível para o autodesenvolvimento, a valorização de habilidades,
aptidões e talentos? Qual estímulo para a criatividade humana, e a criação de
sistemas corporativos com maior significado e perenidade de seus frutos, que
permitam enraizar valores, consolidar os avanços e estimular ações mais profundas
e abrangentes?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tal ponto de vista traduz o fato de que os seres, os integrantes do espaço e agentes
das ações são os meios e não os fins em si mesmos.
Superada a perspectiva exclusivamente motivacional para aplicação em equipes
estamos sendo todos os dias provocados a olhar para nós mesmos na perspectiva
da essência naquilo fazemos. Comunicamos e nos identificamos como autores da
obra. O homem, como gênero masculino carrega em si, por inúmeros fatores de
própria natureza, a energia de explosão. Por sua vez, a mulher tem por dominante
a energia de consolidação. Usando um exemplo dado pela professora Lucia Helena
Galvão, a harmonia dessas forças funciona como uma escada, na qual o vetor
vertical é explosão e o vetor horizontal é consolidação.
A utilização de ambos é o que consolida o avanço. Um deslocamento vertical ou
horizontal constante, por mais que te apresente movimento, não representa a
consolidação evolutiva. Ainda que não seja uma distribuição proporcional dos
movimentos, ou seja, haja degraus mais longos ou mais altos, a conjugação dessas
características que tira do lugar e leva a diante.
Os valores masculinos e femininos se harmonizam por oposição e, dessa forma criam
a riqueza e a beleza. Por exemplificação, digamos que um quadro monocromático
não tem beleza. Somente a conjugação e mistura de cores é capaz de tocar nossos
sentidos, criar imagens, expressões e promover a composição.

 

Sobre esse questionamento não pensemos apenas nos gêneros masculinos e
femininos, mas aos “meios que servem aos fins”. Seria inteligente estimular a
“disputa” entre elementos que se somam?
Um olhar sistêmico nos permite valorizar a relação harmoniosa de cada elemento
no conjunto da obra. Paradigma fundamental para o desenvolvimento sustentável.
Na luta, legítima, entre espaços e direitos esquecemos que homens e mulheres não
são diferentes somente entre si, mas todos os seres têm sua identidade e seus
propósitos imanentes. Cada um faz à sua maneira e, as peculiaridades e
experiências não concorrem, mas se conjugam para compor um feito. Porém, essa
disputa cobrou o preço caro de diminuição da importância dos valores femininos
no mundo corporativo e profissional.
A característica feminina não é um valor intrínseco, mas uma forma de ver o mundo.
A mente feminina tem a capacidade de acolher, de gerar frutos, observar detalhes
e as necessidades do mundo. A mulher em sua habilidade mental, ama mais pela
capacidade de doar, pela nobreza de dignidade, pelo comportamento, do que
necessariamente por atributos físicos.
No entanto, reconhecemos e aceitamos “defeitos” do feminino, como instabilidade
emocional, excessos por “pensar sentindo”, fragilidade. Há que se reconhecer e
entender que a habilidade feminina de doar, de ser generosa, de perceber a
aplicabilidade das soluções às necessidades dos indivíduos, de vitalizar ambientes,
ensinar, criar, fazer crescer e se sustentar é também indispensável.

 


Essas características no outro polo da expansão e força masculinas, capacidade
de grandes criações e conquistas e visão mais estética e prática, gera a
possibilidade de preencher senão todas, quase todas as lacunas dos problemas do
mundo atual. Afinal, no mundo contemporâneo temos mais informação,
capacidade de criação e produção de conhecimento do que em qualquer
momento da história da humanidade, mas essa verdade é diretamente
proporcional aos problemas da humanidade, quando a lógica é que deveria ser
inversa.
Isso desmistifica o conceito de que devemos estar sempre no dilema entre os
anseios femininos e a carreira profissional típica masculina. Não só para homens
numa sociedade masculinizada, mas para mulheres que deixaram sua essência por
achar que só assim chegará a sua vez. Para encontrar propósito é preciso fazer
sentido. Sentir é algo típico da alma feminina.
Portanto, não tem a ver com o que você é, mas com o que você faz, da essência
do que é