Portugal, que se equipara em tamanho com Pernambuco, recebeu 22,8 mil turistas em 2018 – vinte e dois milhões e oitocentos mil turistas. O Brasil, com extensão continental, não recebeu nem sete milhões. Ficou na marca dos 6,6 milhões – seis milhões e seiscentos mil.
O Brasil tem oito mil quilômetros de faixa litorânea, e ocupação de 40% em alguns hotéis ou pousadas são comemorados com festa
Silvana Destro
Será que Portugal chegou a essa marca por puro golpe de sorte? É óbvio que não. Foi estratégia de governo e isso tirou o país de uma crise praticamente incalculável.

Vivi seis meses naquele país, recentemente. Usei majoritariamente transporte público: ônibus e metro – de onde eu ouvia os mais diferentes idiomas: francês, alemão, japonês, português angolano, espanhol.
Os mais céticos virão logo com o argumento da distância. Balela. As pessoas vão para onde são estimuladas a ir. E vão, sobretudo, para onde são bem acolhidas.
Por acolhida, podemos começar a falar da segurança. Eu saía à noite, podia falar ao celular na rua, voltava a qualquer hora e nunca sofri nenhum ataque. Andei pelas ruelas, pelo centro e passei horas à beira do Rio D’Ouro. Nunca fui sequer abordada, nem pelos vendedores de rua.
O país funcionava (antes da pandemia) como uma engrenagem perfeita para atrair e encantar os turistas. Certa vez, comprei um doce num boteco para minha neta. Entreguei o dinheiro e saí. Em seguida, ouço o português gritando atrás de mim “oh, menina!”, e eu achei que tinha entregado dinheiro a menos.
Não. Ele saiu do balcão, me encontrou no meio da rua para me entregar 1 cêntimo, o que seria para nós, aqui no Brasil, um centavo. Tive vontade de beijar o portuga.

O Brasil tem oito mil quilômetros de faixa litorânea, e ocupação de 40% em alguns hotéis ou pousadas são comemorados com festa. Não há o menor entrosamento entre o trade turístico e o Poder Público. Não há treinamento, não há limpeza pública (em grande parte das capitais), não há segurança. Sem falar, claro, dos preços. Ainda que tenhamos sol o ano inteiro em muitos Estados do território nacional.
O turismo é uma das indústrias que mais empregam no mundo. A cadeia é tão grande, que sempre caberá um setor para tirar uma lasquinha desse filão.
Silvana Destro
Temos os caminhos cravejados de hortênsias no sul, as praias de Santa Catarina, os campos do Paraná, a efervescência cultural de São Paulo, e o Pantanal! Alguém já viu um turista desavisado diante daquilo tudo? Alguém já provou o filhote, iguaria paraense que se come até no café da manhã? Não conheço peixe tão bom quanto aquele.

A propósito, quem, entre os leitores, conhece as belezas do Espírito Santo, ou já comprou um pacote turístico para aquelas bandas? Visitou o Museu de Anchieta?
Certa vez, dentro de um ônibus em Portugal, indo para o centro do Porto, dei uma informação qualquer a uma turista de Londres. Quando ela percebeu que eu era brasileira, vi seus olhos se encherem de lágrimas e bem que ela tentou, mas só eu entendi: Chapada dos Guimarães! Nos abraçamos. E ela era londrina!
Afora as humilhantes bobagens que assistimos no horário eleitoral vigente, algum candidato já apresentou proposta para incrementar o turismo local? Incentivo fiscal, programas de divulgação interestadual ou internacionais, escolas técnicas, escolas de idiomas? Não, senhores, isso é barato demais, e com a parceria do trade, sai praticamente de graça – e todos são beneficiados.
O turismo é uma das indústrias que mais empregam no mundo. A cadeia é tão grande, que sempre caberá um setor para tirar uma lasquinha desse filão.

Precisamos, com urgência, repensar as formas de se fazer política, sobretudo dar um basta à dependência do governo federal para ditar as políticas de desenvolvimento.
Turismo é uma indústria limpa, exala felicidade e prazer. Por que, até hoje, nossos políticos relegaram tanto esse segmento? Talvez a resposta esteja nas nossas próprias feridas.