O Brasil que hoje se confronta nas ruas, nas esquinas, nas redes sociais é fruto de uma vida pública que não leva para o Congresso Nacional as grandes discussões
O calor dos debates políticos no cenário nacional está levando o Brasil para uma guerra de discursos desconexos em cada esquina do território nacional e também no imenso universo das redes sociais. Qualquer palavra pronunciada que envolva a questão de preferência política vira um estopim para a troca de ofensas mútuas e, curiosamente, ambos os lados do debate têm como pano de fundo a suposta defesa da liberdade de expressão e de pensamento. Às vezes, as ofensas surgem até no silêncio. Basta vestir camisa verde e amarelo e logo alguém irá lhe rotular como fascista, genocida ou qualquer coisa do gênero. Mas, quando se recorre a fatos reais, comprováveis de forma documental, não se deve temer a retórica dos contra-ataques. O Brasil que hoje se confronta nas ruas, nas esquinas, nas redes sociais é fruto de uma vida pública que não leva para o Congresso Nacional as grandes discussões. Há décadas, desde a promulgação da última Constituição, os homens bons passaram a ser aqueles que agem pautando suas ações no contexto das intervenções sociais. Sendo assim, vejamos alguns indicadores interessantes para um debate real. Nos últimos dois anos, o Governo Federal destinou para ações de ordem assistencialista o valor médio anual de R$ 373,4 bilhões, contra um valor médio de R$ 131,8 bilhões no curso do Governo Dilma/Temer, de 2015 a 2018. A diferença anual, assim, é de R$ 241,6 bilhões, equivalente ao orçamento anual do Governo do Estado de São Paulo. É provável que muitos digam que isto ocorreu por força do pandemia, o que de fato é verdade. Mas ninguém pode dizer que isto é mais uma fake news.
O governo acusado de negligenciar nas ações de saúde, em valores médios anuais, também destinou para o SUS um repasse anual R$ 10,6 bilhões maior do que a média anterior
Há anos, se pleiteava que o Governo Federal desse mais atenção para a Educação Básica, reforçando repasses de verbas para o Fundeb. A média de repasses anuais do atual governo, em relação ao anterior, é superior a R$ 1,8 bilhão. O governo acusado de negligenciar nas ações de saúde, em valores médios anuais, também destinou para o SUS um repasse anual R$ 10,6 bilhões maior do que a média anterior, informação igualmente comprovada em dados oficiais disponíveis nas prestações de contas exibidas pela Secretaria do Tesouro Nacional. No controle da dívida pública, o atual governo reduziu a taxa de juros e assim alcançou uma diminuição de despesas de R$ 53,3 bilhões, em valor médio anual, na comparação com a gestão anterior. Na Previdência Social, mesmo após uma ampla reforma de benefícios, não obteve êxito. O rombo médio anual ficou na faixa de R$ 250,4 bilhões, contra R$ 158,7 bilhões na média anual do governo anterior, mas neste contexto foram inclusos mais 1,3 milhão de aposentados ou pensionistas. O nível de reservas cambiais exibiu um declínio de US$ 19,1 bilhões, entre 2018 e 2020, embora em reais tenha evoluído por força ao aumento do valor do dólar. Mas todas as diferenças apontadas geraram um custo para todo o Brasil, com a expansão da dívida pública em R$ 1,3 trilhão, também entre 2018 e 2020. Percebe-se, desta forma, que dá para melhorar o nível de um debate marcado por ofensas mútuas e até pelo preço do feijão e da gasolina. É legítima a liberdade de expressão e de pensamento, mas é prudente perceber que o Brasil é maior do que nosso ego.