04 de fevereiro de 2024
Por Jaqueline Fernandez Alves | Colunista
“A fênix do litoral paulista tem vários exemplos de edifícios importantes e históricos que renasceram das cinzas”
Santos já foi palco de importantes movimentos políticos e culturais, mas no trato com o seu patrimônio histórico se revela uma cidade conservadora. No sentido mais contemporâneo e amplo do que isso possa significar – já que se considera patrimônio histórico e cultural tudo aquilo que tem valor histórico, artístico, arquitetônico , científico, social, cultural de uma sociedade – o santista ve paulatinamente o apagamento do patrimônio da sua cidade, sem reagir. Preservar o patrimônio é reflexo de uma cidade que cuida dela mesma.
A fênix do litoral paulista tem vários exemplos de edifícios importantes e históricos que renasceram das cinzas. O bem-sucedido edifício revitalizado e restaurado do Theatro Guarany que o diga pois foram 20 anos de espera abandonado a própria sorte depois de um incêndio. Há outros: os casarões do Largo Marques de Monte Alegre que possuíam três paredes arruinadas antes da intervenção que as transformou no Museu Pelé; o Teatro Coliseu que teve seu restauro arrastado por mais de uma década e que depois de finalizado a cada tempo fecha para novas reformas; há também o Outeiro de Santa Catarina que depois de uma intervenção que o transformou na sede da Fundação Arquivo e Memória de Santos, foi esvaziado, se deteriorou e recebeu um novo restauro. Sem contar as demolições históricas de vários edifícios: o Parque Balneário, o Clube de Regatas Santista, o Clube XV, o Clube Atlético Santista, o Mercado de Peixes e conjuntos urbanos que vão do eclético ao moderno.
Essa é a pior política de preservação, deixar deteriorar para depois restaurar. Nesse processo, elementos originais desaparecem e a cada intervenção o patrimônio original fica diferente. A melhor política é a da conservação preventiva e programas muito conhecidos de zeladorias do patrimônio vem se mostrando muito eficientes.
Atualmente uma afirmativa falaciosa anda na moda, dizem que “o que é antigo é diferente do que é histórico”, induzindo o cidadão a acreditar que o que é antigo pode desaparecer, mas o que é histórico a gente deixa cair? A Hospedaria dos Imigrantes não foge à regra. Vem desmoronando aos poucos há anos e de vez em quando alguém se lembra de fazer uma matéria sobre o assunto.
Na verdade, o que incomoda ultimamente é a pobreza ao redor e o aumento de moradores de rua no lugar devido entre muitos fatores à precarização generalizada que a pandemia do coronavírus ocasionou.
Não faltaram iniciativas públicas, pagas pelo bolso do contribuinte, alguns projetos já foram desenvolvidos, mas nunca saíram do papel.
“Os Casarões do Largo Marques de Monte Alegre que possuíam três paredes arruinadas antes da intervenção que as transformou no Museu Pelé”
A guisa de ilustração em julho de 2000 a prefeitura municipal divulgava: “Até o final do ano, Santos terá mais uma grande obra sendo construída e que deverá gerar cerca de 2 mil empregos diretos e indiretos. O projeto arquitetônico do Centro de Convenções de Santos “Hospedaria dos Imigrantes”, que será erguido no antigo prédio da Hospedaria, na Rua Silva Jardim, foi aprovado, ontem (18), em ato que contou com a presença de toda a diretoria do Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista, responsável pela construção do empreendimento. Ainda hoje (19) deverá ser liberado o alvará que permite a construção do centro. As obras avaliadas em R$ 10 milhões 700 mil devem ter início entre os meses de novembro e dezembro, com um prazo para sua execução de 20 meses. A aprovação do projeto, que já tinha sido liberado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa), só não ocorreu antes pelo fato de a entidade sindical ter alterado os planos iniciais, retirando a garagem que seria construída no subsolo, passando o estacionamento para um terreno cedido pela Codesp”, escreveu o periódico.
Ora, não é prioridade! Se estivéssemos falando de um edifício onde algum empreendimento imobiliário tivesse que ser erguido já estaria tudo resolvido. Enquanto isso o que se vê é a Hospedaria se despedindo da história tijolo por tijolo e a consequência é que gradualmente sua recuperação fica cada dia mais difícil. Não faltam estudos para o local, os cursos de arquitetura e urbanismo da cidade produzem todos os anos inúmeros projetos com usos diversificados, de escola de dança a entreposto de alimentação, de residência estudantil a parque urbano.
Todos sabem o que fazer, o investimento não vem porque não há vontade política! Atualmente estamos vivendo um período de inconsistências e a memória vai pelo mesmo caminho. Um país que não valoriza a sua cultura, mas prioriza tudo aquilo que é efêmero tende a criar cidadãos de memória curta!