A política não é de marte. Ela é fruto do nosso meio.

por Sérgio França Coelho

A Grécia antiga exerceu papel fundamental para a formação das civilizações ocidentais que conhecemos hoje, especialmente quando o tema é organização política. Segundo historiadores, o primeiro registro de estruturas políticas organizadas surgiu na cidade de Atenas, ficando conhecidas como “democracia ateniense”.

A história também nos mostra o surgimento da política como um fenômeno necessário para organizar a forma de participação dos cidadãos na vida em sociedade e nas decisões relativas às estruturas de governo.

As primeiras decisões políticas na Grécia foram relativas ao direito ao voto e ao direito de participação nas decisões ligadas às cidades. Neste sentido, o filósofo grego Aristóteles contribuiu para a concepção de política como organização e o funcionamento das cidades gregas, ao afirmar que “o homem é um animal social”, ou que “a cidade é uma criação natural e o homem é – por natureza – um ser social, e não por mero acidente”.

Aristóteles defendia que a função central da política era atender aos interesses dos cidadãos, devendo o interesse de todos ser a prioridade nas decisões tomadas pelo governo.

Tudo isso para afirmar que do ponto de vista histórico – e porque não dizer até sociológico -, a organização política nascida na Grécia e que ainda serve como base para nosso sistema democrático atual, representa manifestação de parte da própria natureza humana. E que a necessidade de viver em grupo, de compartilhar valores, sonhos e projetos comuns é tão natural para o ser humano quanto suas necessidades vitais mais básicas.

Até por isso, compreender este processo equivale a compreender a alma coletiva das comunidades, bairros, cidades e até mesmo de um país. Quanto maior for a participação da sociedade em decisões de impacto coletivo, maior a legitimidade das iniciativas.

Inversamente, quando desprezamos os sentimentos e pensamentos desta alma coletiva estamos cooperando para o fracasso coletivo, alimentando ações predatórias, cuja única prioridade é o retorno de curto prazo. Desvinculados dos anseios de uma alma coletiva, iniciativas de qualquer setor tendem a não ser assumidas pela sociedade, e por consequência não são legitimadas e nem se sustentam no longo prazo. Tudo isso pode ser resumido numa expressão muito utilizada atualmente: “Pertencimento”.

No contexto desta narrativa temos cá, na América latina, bem próximo de nós, uma referência de participação social para a construção do futuro de nossas cidades. O exemplo da Colômbia pode ilustrar esse debate, considerando que há bem pouco tempo eles enfrentavam desafios tão graves quanto os nossos.

Lá, as grandes transformações sociais que o mundo está assistindo nasceu primeiro dos Fóruns Sociais, liderados por professores, empresários e organizações do terceiro setor, que estimularam o debate e a formação de cidadãos mais críticos, participativos e conscientes dos papéis sociais que podem e devem exercer. Os parques-bibliotecas e os inúmeros eventos culturais de Medellín são prova disso.

Para se ter uma ideia, nos anos 90 Medellín tinha 380 homicídios para cada 100 mil habitantes, o que lhe rendeu o título de cidade mais violenta do mundo. Os números da violência foram caindo com a implantação do processo de cultura cidadã e chegaram, em 2016, a apenas 21 homicídios por cada 100 mil habitantes.

Esses resultados foram possíveis graças aos projetos de música, teatro, dança, arte e literatura em seus centros culturais regionais e bibliotecas de bairro, além de tantas outras iniciativas arquitetônicas e urbanísticas que devolveram o espaço público para o protagonismo da sociedade local.

Ao enfrentar com êxito a violência e a pobreza, Medellín viu os esforços da própria sociedade se refletirem também na economia: desde 2010 o produto interno bruto da região vem crescendo acima de 3% ao ano.

Não quero dizer aqui que os exemplos da Colômbia precisam ser copiados, mas os fatos nos convidam a várias reflexões.

A minha é afirmar que a política e os políticos não foram importados do planeta Marte. Sejam eles “bons ou maus”, a política e seus políticos são produtos da própria sociedade que os forjou. Uma realidade que nos leva a concluir que a sociedade precisa utilizar melhor seu “capital social”, de forma a assumir o controle do próprio destino.

Esse controle não é uma abstração. Essa é a lição que podemos aprender com a Colômbia.

O Movimento Protagonismo Cidadão e seus diversos núcleos de atuação se propõe a tal desafio: mobilizar lideranças da cidade em torno de ideias, princípios e fundamentos que possam melhorar a vida de todos os cidadãos e colaborar com o aperfeiçoamento da gestão pública.

A política e seus políticos não são de Marte. São produtos de nossa própria ação e omissão. Se quisermos melhor a vida em sociedade precisamos não apenas mudar a forma de fazer as coisas; precisamos aprendermos a assumir nossa responsabilidade e o protagonismo destas mudanças – o protagonismo das pessoas comuns, das pequenas iniciativas que geram grandes transformações. A hora é agora.