O santista precisa ver seu porto não apenas pelos navios que entram e saem pelo canal
Adílson Luiz Gonçalves
Nosso porto merece ser amado por vários motivos, que nem todos conhecem ou preferem ignorar, por outros interesses.
Alguns o encaram com estranheza; outros como uma “galinha dos ovos de ouro”. Há, ainda, quem queira seu sumiço ou comer sua carne e roer seu osso.
Casos de amor têm suas desavenças, mas quando a afeição é verdadeira e recíproca, é pelo diálogo que a gente se entende. E quando a convivência é condição, é possível descobrir maneiras de resolver problemas de forma conjunta, aprimorando a relação de forma que ser duradoura também seja de mútuo proveito.
Todos temos defeitos e virtudes, por certo. O que torna os relacionamentos longevos e harmoniosos é o constante aprimorar das virtudes e o amenizar dos defeitos. Para tanto, nunca deve haver muros nem murros, jamais um virar de costas – o que pode gerar riscos adicionais -, e ninguém de fora para “meter a colher”.
Ingerências políticas, visões limitadas de sustentabilidade e interesses sectários têm prejudicado esse relacionamento
Adílson Luiz Gonçalves
Isso é bem difícil quando o relacionamento é arranjado. Mesmo assim, é possível haver uma relação cordial, que dê bons frutos. No entanto, é muito melhor quando a união ocorre sem imposições ou paixões.
No caso de Santos, a cidade nasceu do porto, como Eva teria nascido da costela de Adão: quase que imediatamente após.
Assim como no Gênesis, na mitologia grega ou no clássico conto dos irmãos Grimm, certas “maçãs” têm causado problemas de relacionamento, evitando que o convívio porto-cidade seja um éden, sem discórdias ou esperas para que um feitiço maléfico seja desfeito.
Infelizmente, não tem faltado serpentes, caixas de Pandora e feiticeiros empenhados em gerar problemas ou tirar proveito deles, em vez de solucioná-los.
Ingerências políticas, visões limitadas de sustentabilidade e interesses sectários têm prejudicado esse relacionamento, cada um querendo “puxar a brasa para a sua sardinha”.
O fato é que não se pode separar porto e cidade, mesmo que muros físicos, políticos ou corporativos existam e insistam.
Mas, para tanto, as pessoas precisam saber que o porto é importante para a cidade, assim como a cidade é importante para o porto. Importante porque gera tributos e empregos que movem a economia da cidade e região, sustentando serviços públicos essenciais e garantindo melhor qualidade de vida. Fundamental porque mais de 1/4 da balança comercial do país por ele circula. Indissociável porque faz parte de nossa história, que alguns querem esquecer ou reescrever com as tintas do preconceito, do rancor ou da ganância.
O santista precisa ver seu porto não apenas pelos navios que entram e saem pelo canal; ter e manter o mesmo encanto dos que os veem pela primeira vez, chegando ou partindo; encarar seus apitos como “olás” e “até breves”; e, principalmente, conhecê-lo por dentro, para melhor saber de suas virtudes e defeitos, e assim sugerir soluções para uma melhor convivência, propondo curas para eventuais doenças, em vez de morte por asfixia, obsolescência ou expurgo.
Para tanto, é necessário que porto e cidade abram as portas que os separam; que o santista conheça desde a escola essa relação tão histórica quanto atual, tornando-a parte de seu cotidiano, de sua identidade, e que veja o porto não como federal, regional ou privado, mas como seu! O mesmo vale para quem chega ao porto, em relação à cidade, de forma que todos amem porto e cidade numa comunhão que ninguém nunca separe.