A relação Estado e Cidadão deverá passar por um processo disruptivo, onde o cidadão também venha assumir a responsabilidade,
Osmar Ventris
Sem sombras de dúvidas, o Brasil passa por um momento sem precedentes de crises (política, econômica e sanitária) e de inversões morais, éticas e cultural, agravada pela pandemia que assola o planeta.
Ocorre que, mais cedo ou mais tarde, tudo irá passar, afinal tudo passa…
A questão é, como serão retomadas as atividades socioeconômicas e como será o desenho do mercado brasileiro face ao mercado interno e internacional?
Como irá se desenrolar a relação emprego e empregabilidade?
Que tipo e quais qualificações profissionais serão reclamadas pelo mercado de trabalho?
Que tipo e quais as qualidades serão necessárias aos empreendedores pós-pandemia?
Que tipo de Estado o país irá clamar…
São muitos questionamentos, mas parece ser senso comum de que muita coisa irá mudar, outros acham que não muito. Todas as crises trazem consequências. Em alguns países as crises trazem ditatura, e outros reforça a democracia. Todas as crises têm tempo de duração: o que fica são os traumas, as consequências e principalmente as lições.
Porém é certo que demandas diferentes deverão despontar sob uma realidade diferente da qual vivíamos no início do ano.
A relação Estado e Cidadão deverá passar por um processo disruptivo, onde o cidadão também venha assumir a responsabilidade, ser protagonista, por ações e iniciativas de interesse público contando com o Estado facilitador e fomentador das ações.
Neste ambiente, será relevante o papel do protagonismo disruptivo, tanto do cidadão como das entidades organizacionais. O protagonismo é que fará as coisas acontecerem restando ao Estado, também se adequar à nova realidade.
Estará em alta a competência competitiva do profissional, e também da organização, para conseguir se reestruturar no primeiro momento pós-pandemia, e em um segundo momento se reinventar ante o cenário político, econômico e social, visando as demandas emergentes da nova realidade social e dos mercados, interno e externo.
A questão que se coloca é: como os cidadãos e notadamente os empresários e profissionais de alto escalão estão vendo e sentindo este momento de grave crise planetária?
A lente de uma máquina fotográfica produz um determinado tipo de resultado, ao mudar a lente, o resultado também muda. A questão é: Quais lentes os cidadãos com potencial ao protagonismo inovador ou disruptivo estão vendo este momento?
Deixo aqui uma frase proferida pelo Karnal de que “a crise não transforma de fato a questão moral, mas ela revela quem nós somos.”
A lente de uma máquina fotográfica produz um determinado tipo de resultado, ao mudar a lente, o resultado também muda. A questão é: Quais lentes os cidadãos com potencial ao protagonismo inovador ou disruptivo estão vendo este momento?
Osmar Ventris
Ou seja, a personalidade de cada um, influenciado pela lente pela qual interpreta a crise irá produzir um resultado.
Mas, o que seria um protagonismo disruptivo?
Para entender, vamos passar por algumas definições:
Protagonista e Protagonismo: Protagonista derivado do grego protagonistes, (“protos”: principal ou primeiro; “agonistes”: Lutador ou competidor). Protagonismo é o processo pelo qual o protagonista chama para si a responsabilidade por determinada ação, missão ou função, com vistas a determinado objetivo. Nas artes cénicas e literárias, protagonista é o personagem principal, que dá vida ao enredo.
Interessante observar que o protagonista inovador ou disruptivo normalmente assume um locus[1] de controle interno[2], ou seja, é o indivíduo que acredita no seu potencial interno de controle e analisa de que forma pode contribuir, com esforço próprio, para melhorar a sua vida e como atuar em prol da coletividade. Exige mais de si mesmo, busca superar obstáculos, valoriza os resultados frutos do seu esforço e competência. Se responsabiliza pelos resultados, positivos ou negativos.
Lembrando que há pessoas que assumem o locus de controle externo, cujas ações são motivadas pelo ambiente externo e responsabiliza a sorte, o ambiente, as pessoas, o trânsito, o chefe, pelo resultado.
Atuam como coadjuvante motivados por terceiros.
Disruptivo x Inovação: Inovar é reformular algo pré-existente: apresentar sob nova vestimenta, sob nova forma. Por exemplo, a cada ano a indústria automotiva inova em seus tipos de veículos, que passam a se chamar de modelo 1028, modelo 2019, modelo 2020, etc.
Disruptivo, rompe com um modelo ou uma tecnologia, substituindo por outra totalmente nova. Por exemplo: Câmeras fotográficas com filmes (lembremos da Kodak com filmes de 20 ou 30 poses) e em seu lugar entram as câmeras digitais. Vídeos locadoras também é um exemplo, assim como os vídeo k7 (vídeo cassetes), cuja última fábrica fechou em 2016.
Precisaremos de cidadãos com protagonismo disruptivo no campo político, ideológico, social, organizacional, gerencial, políticas públicas, econômico-financeira, educacional, dentre muitas, e não menos importante, na relação Cidadão – Estado e Estado-cidadão.
Em termos de possível demanda, lembramos que esta crise deixou claro a armadilha em que o capitalismo se meteu ao concentrar indústrias do mundo na China, atraídos pelo baixo salário e falta de regulamentação trabalhista no país comunista chinês.
Na pandemia ficou refém das decisões unilaterais chinesas. Portanto, muitos empresários já estão estudando desconcentrar suas plantas produtoras. Tal movimentação, com certeza movimentará o mercado de trabalho e prestações de serviços.
CONCLUINDO:
Os tempos de pós pandemia se desponta desafiador para a retomada da vida social, econômica e financeira da população brasileira e mundial. Os países que cumpriram suas lições de casa, principalmente os governados por mulheres, já estão voltando, com prudência, à normalidade. Estes países poderão servir de modelo para aqueles que, mais tarde, irão retomando as atividades econômicas e sociais.
Todavia, a expectativa é que novos desafios necessitam de novas formas de soluções e novos resultados (produtos, tecnologias, gerenciamento, etc). Portanto novas demandas.
Novas demandas e forma de ver e mover o mercado irão impactar empregos e empregabilidade, bem como a consciência do cidadão quanto ao seu papel perante a sociedade e diante do Estado.
Cidadãos dotados de locus
de controle interno, diante das demandas apresentadas pelo mercado e pelo
cenário social, deverão se destacar como cidadão protagonista disruptivo,
assumindo responsabilidades de cunho social e organizacional na construção da
nova realidade brasileira, com vistas à melhoria da qualidade de vida da
população, quebrando paradigmas e vícios no trato da coisa pública e na relação
Estado-Cidadão, Estado-Organizações Empresariais e Estado-estamento político.
[1] Locus: do latim, lugar.
[2] Conceito formulado por Julian B. Rotter em 1966 em seu artigo “Psychological Monographs”.