05 de fevereiro de 2024
Matéria publicada pelo site do Jornal A Tribuna no início de maio de 2023 revelou que mais de 2.470 pessoas viviam em situação de rua na Baixada Santista. De acordo com a matéria, cerca de 81% destas pessoas estavam concentrados nas cidades de Santos, Guarujá e Praia Grande, sendo Mongaguá, a cidade com a menor concentração e São Vicente, a única cidade que não enviou dados para o jornal. Como o censo apontado na matéria foi realizado em 2019 (antes da pandemia), especialistas apontavam que os dados poderiam estar subdimensionados.
Em 2024, a impressão que temos é que o problema se agravou ainda mais, o que nos leva a uma profunda reflexão sobre a dimensão dos desafios a serem enfrentados pela sociedade para lidar com o problema, sem perder de vista, o devido resgate da dignidade destas pessoas.
“Muitas pessoas estão na rua por quebra do vínculo familiar, perda de um ente querido, abuso de álcool e drogas, que necessitam de uma atenção voltada para a saúde mental”
Quais os fatores que levam as pessoas a morarem nas ruas? Nem todos os moradores de rua são dependentes químicos. Da mesma forma, nem todos os moradores de rua são egressos do sistema prisional. No entanto, alguns fatores comuns entre essas pessoas, quando somados potencializam essa condição, levando muitas delas a morarem nas ruas formando verdadeiras comunidades paralelas. Um levantamento, que vem sendo repetido desde 2016, investiga o perfil dos frequentadores da Cracolândia no Bairro da Luz em São Paulo, quanto às suas características sociodemográficas, condições de saúde, histórico de uso de drogas e de tratamentos, e nível de vulnerabilidade social e comportamentos de risco.
A onda mais recente do estudo, realizada em outubro de 2019, também investigou, utilizando uma metodologia diferenciada, como os usuários adquirem a droga e quanto gastam com ela diariamente. O estudo complementar sobre as questões econômicas do consumo de crack estimou que os usuários gastam, em média, R$192,50 diariamente. Neste estudo complementar, os usuários foram questionados quanto a origem do recurso, já que mais da metade deles (53,9%) não tem qualquer tipo de renda ou benefícios. Foi constatado que a fonte do recurso utilizado para compra da droga é extremamente variável, com mais da metade (58%) obtendo recursos como pedinte, 44% e 46% através de furtos em estabelecimentos e pessoas, respectivamente, e 35% obtêm o recurso através de prostituição dentre outras.
Como se forma uma Cracolândia, e onde está a maior do mundo? Segundo os usuários, dentre os principais motivos que os levam a frequentar a região da Cracolândia estão: disponibilidade da droga (31,2%), segurança de uso entre os pares (20,4%), preço (16,4%) e liberdade para uso (14,8%). Na maioria das cidades do mundo, especialistas afirmam que o erro mais grave das autoridades ao enfrentarem o problema está na pemissividade com a aglomeração de dependentes químicos nas ruas. E neste sentido, São Paulo não é a única cidade do mundo que lida com esse drama. A maior concentração de moradores em situação de rua e usuários de drogas do mundo está nos Estados Unidos, na região da Skid Row, em Los Angeles.
“A Alemanha ofereceu às pessoas que compunham a sua “Cracolândia” terapias de substituição de drogas e criou salas supervisionadas para o consumo delas”
Na Baixada, a Maioria está em Santos – Uma das possíveis razões do apresso dos moradores de rua e dependentes químicos pela cidade de Santos é a facilidade com que podem sobreviver na cidade com as doações que recebem e um clima quente na maior parte do tempo. Não é difícil se deparar em algum ponto da cidade com um Bom Prato, algum albergue ou uma ONG que faz arrecadação de cobertores no inverno ou distribui refeições para moradores de rua. Com tantas facilidades, estas pessoas acabam tornando-se residentes fixos pela orla e pelas calçadas de toda a cidade. Mas será que esta atitude de compaixão não acaba sendo mais prejudicial do que benéfica para essas pessoas? É só a fome ou o frio que incomodam? Muitas pessoas estão na rua por motivos como a quebra do vínculo familiar, perda de um ente querido, traumas, abuso de álcool e drogas, dentre outros aspectos psicológicos, que necessitam de uma atenção voltada para a saúde mental.
Além das instituições públicas que atendem a demanda de pessoas com doenças psicológicas, como é o caso do Caps que conta com profissionais empregando estratégias de acolhimento, as comunidades terapêuticas também parecem ser uma alternativa interessante para esse enfrentamento. Como identificar sua idoneidade e eficácia no acolhimento e tratamento?
O Desafio da Solução Permanente – A Alemanha ofereceu às pessoas que compunham a sua “Cracolândia” terapias de substituição de drogas e criou salas supervisionadas para o consumo delas. Nestas salas, por exemplo, a heroína era substituída por opioides, com a Metadona, em quantidade estipulada e uso monitorado por um médico. Em São Paulo, cinco medidas do governo estadual e da prefeitura estão em curso para tentar acabar com a Cracolândia: 1. Combate ao tráfico de drogas; 2 Mudança da sede administrativa do governo para o centro; 3 Incentivo à moradia popular no centro; 4. Censo dos moradores de rua do centro; 5. Programas de saúde e internações a frequentadores da Cracolândia.
Um Problema da Sociedade – É claro que não é responsabilidade de ninguém adotar um morador de rua, mas eles não deixam de ser um problema de todos, e um fato que não se pode negar é que estas pessoas precisam, acima de tudo, do resgate da própria dignidade. Com tantas medidas em curso, por que o problema se agrava a cada ano? Sendo os moradores de rua seres humanos como qualquer outro, com potencial e habilidade latentes, é possível que com uma assistência adequada eles possam ser reinseridos na sociedade e profissionalizados? Como as ações voltadas para esta população podem atuar de forma mais efetiva?
Para refletir sobre esse tema, o painel o painel GOVLOC do Protagonismo Regional em Debate promove no programa do próximo dia 05 de fevereiro, a partir das 20h, o debate: MORADORES DAS RUAS | Resgatando a dignidade humana. Que terá como convidados Audrey Kleys | Secretaria de Desenvolvimento Social de Santos e Marcio Moura| Terapeuta e Gestor da Comunidade Renovar Vidas.
Assista O programa Completo
SOBRE OS CONVIDADOS
AUDREY KLEIS |jornalista e trabalhou por 16 anos na TV Tribuna, afiliada da Rede Globo na Baixada Santista. É formada também em Direito e tem duas pós-graduações em Educação. Foi Secretária-Adjunta de Educação de Santos entre 2013 e 2016. Foi eleita vereadora em 2016 e reeleita em 2020. Atualmente licenciada da Câmara de Santos, é Secretária de Desenvolvimento Social da cidade.
MARCIO MOURA | Proprietário de uma comunidade terapêutica em Itapecerica da Serra, Instrutor bombeiro com equipe especializada em resgate de dependentes químicos, alcoólatras e esquizofrênicos, palestrante, consultor terapêutico holístico, gestor e administrador.
SOBRE O PROGRAMA
A Plataforma Protagonismo Cidadão, iniciativa não governamental e apartidária, é uma rede apoiada por empresas, comunidade acadêmica e terceiro setor, fundada com objetivo de apoiar a iniciativa cidadã como verdadeira protagonista do desenvolvimento da sociedade. Nossa plataforma se autodefine ao mesmo tempo como visão, selo e canal de informação em plataforma digital.
ENTREVISTAS E DEBATES SOBRE A REGIÃO
O programa Protagonismo Regional em Debate, produzido pela equipe de comunicação do Movimento Protagonismo Cidadão, teve seu primeiro programa veiculado em 30 de maio de 2020 e conta com a participação de especialistas e lideranças de setores diversos. Com duração de 60 minutos, as entrevistas e debates são pautados na identidade e vocações econômicas da região.
As transmissões são feitas ao vivo pelas plataformas digitais da internet (Lives), com apresentação e condução das entrevistas feitas por Sérgio França Coelho e Lúcia Helena Cordeiro, ambos fundadores e apresentadores do Canal Protagonismo Cidadão.
PARTICIPAÇÃO CIDADÃO NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO
O objetivo central dos debates é colaborar com a retomada do protagonismo político e econômico da região no cenário nacional, através da melhor exploração de suas vocações, e na criação de uma cultura de participação mais proativa da sociedade sobre temas ainda hoje circunscritos às áreas: política, empresarial e estatal.
CANAIS DE TRANSMISSÃO
Para atingir estes propósitos, este projeto tem apostado em estratégias multiplataformas de redes sociais (canais do Youtube, Facebook e Instagram Protagonismo Cidadão e Diário do Litoral), utilizando linguagem atraente a diferentes públicos, mas com foco especial em jovens de 25 a 35 anos, que ainda estão formando consciência crítica quanto aos desafios da vida nas cidades.
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