03 de julho de 2023
De um modo geral, as cidades trazem em seu cotidiano aspectos de sua cultura, sociedade, e economia, que as tornam únicas quando comparadas a outros lugares. Mas as cidades históricas, ou coloniais, além destes fatores, também possuem uma característica bem demarcada. Esse fato torna o passado dessas cidades, lugares potenciais em atrair pessoas na busca de conhecimento cultural e sentido de identificação. Dessa forma, a cultura e todo o seu legado, fazem desses locais produtos prontos para serem formatados pela atividade turística.
Somado a isso, a memória dos moradores pode e deve ser também evidenciada como algo que agregue valor a experiência do visitante. Nas cidades que deram origem e contribuíram para a formação do Brasil, aspectos como a arquitetura, arte sacra, festas, celebrações religiosas, culinária, dentre outros, podem auxiliar na construção de um turismo calcado nos valores culturais, no resgate do passado e no desenvolvimento da economia.
DE SÃO VICENTE A OURO PRETO – Apesar de não estar relacionada como cidade patrimônio, e nem mesmo cidade histórica, a primeira cidade do Brasil é parte importante da história brasileira desde os tempos do descobrimento, quando em 1532 foi fundada a vila e a capitania de São Vicente. E um lugar em especial, conhecido como Japuí, o mais antigo e mais belo bairro de São Vicente, guarda também uma forte relação com a história do Brasil. O bairro localizado após a Ponte Pênsil demonstra seu pioneirismo através das ruínas do Porto das Naus, considerado o mais antigo sítio histórico da região, que alguns historiadores afirmam datar dos primórdios da fundação do município vicentino, embora muitas sejam as controvérsias sobre o assunto.
Até hoje o Porto das Naus é conhecido como antigo ancoradouro das naus do tempo de Martim Afonso. Infelizmente, as ruínas estão sumindo, embora a área tenha sido tombada pelo Condephaat. Apesar do importante passado, a cidade perdeu praticamente todo seu patrimônio histórico-arquitetônico do período colonial e imperial.
Como tentativa de resgate da rica história de São Vicente para o Brasil, a encenação da fundação da Vila de São Vicente foi, por vários anos, a principal inciativa local dessa promoção. A primeira apresentação do espetáculo ocorreu em janeiro de 1982 em um pequeno cercado na praia do Gonzaguinha, organizado à época por voluntários da comunidade local que se reuniam durante o dia para comemorar o aniversário da cidade.
Com o passar do tempo, se transformou em um grande espetáculo teatral que a cada ano contava de maneira diferente a fundação da cidade em janeiro de 1532. Um dos grandes atrativos da peça era a réplica da caravela Espírito Santo, utilizada pelos colonizadores no século XVI.
OURO PRETO – Principal cidade brasileira do período colonial, Ouro Preto está ligada à descoberta do ouro aluvião pelos exploradores Antônio Dias de Oliveira e padre João de Faria Fialho, que ocuparam as margens dos ribeirões e os morros que circundam a cidade, onde o minério era abundante.
Fundada em 1698, por bandeirantes paulistas, tornou-se sede da Capitania das Minas Gerais em 1711, quando foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vila Rica de Albuquerque. Em Ouro Preto, cidade que se tornaria um dos maiores símbolos da preservação do patrimônio cultural no Brasil, discussões sobre a necessidade de atrair e orientar os visitantes estão presentes em documentos produzidos pela instituição durante o projeto e a construção do Grande Hotel, projetado por Oscar Niemeyer, quando da transformação da antiga Casa de Câmara e Cadeia em Museu da Inconfidência. Naquele momento, a atividade turística no Brasil carecia de organização, embora já contasse com agências que buscavam estimulá-la.
CIDADES HISTÓRICAS – O Programa de Revitalização das Cidades Históricas foi, no início da década de 70, a primeira grande tentativa do governo brasileiro de inclusão dos sítios urbanos nos processos de desenvolvimento econômico e geração de renda. A visão favorável ao desenvolvimento turístico nas cidades históricas foi externada por intelectuais de destaque no campo da preservação, como Aloísio Magalhães, que caracterizaram a atividade turística como vetor de integração das comunidades locais e de democratização do patrimônio.
A defesa do turismo como atividade fundamental para os sítios urbanos preservados por ser geradora de recursos e empregos no início da década de 70 fez parte de um quadro mais amplo de produção de um consenso sobre a importância de impulsionar essa atividade, envolvendo diversos agentes e instituições brasileiras e internacionais.
Presente nos discursos e propostas políticas, o turismo foi apresentado como atividade capaz de erguer a economia brasileira e retirar do atraso e da estagnação em que se encontravam muitos dos municípios brasileiros – o “toque de midas” que traria prosperidade para os locais onde se instalaria, oferecendo uma possibilidade de “recuperação” dos espaços preservados. Que se iniciou pelas cidades do nordeste, e depois se estendeu ao centro-sul do país.
O SURGIMENTO DO TURISMO CULTURAL NO BRASIL – A década de 70 foi um período de acentuado crescimento do fluxo turístico. Essa atividade foi apresentada pelas agências federais criadas para desenvolvê-lo e regulamentá-lo, como uma necessidade para o desenvolvimento nacional. A exploração do turismo Cultural também foi associada à melhoria das condições de vida das populações por ele afetadas e ao desenvolvimento econômico das regiões e países que investiram nesse setor produtivo. Organizações como a Unesco, Icomos, OEA e o Cicatur tornavam-se decisivas, não somente na elaboração de normas e metodologias a serem seguidas pela Embratur (criada em 1966, com o Conselho Nacional de Turismo) mas ainda na formação de técnicos e primeiros graduados na área de turismo.
Esses profissionais se tornaram alguns dos principais “intelectuais orgânicos” desse novo campo que se afirmava no Brasil, desempenhando um papel fundamental na formação de um consenso sobre a importância do turismo para o desenvolvimento da economia do país e na geração de renda para sua população.
TURISTA CULTURAL – Assim como alguns viajantes aproveitam as férias para testar seus limites em esportes de aventura, outros saem de casa para aumentar a bagagem de conhecimento, visitando destinos importantes pela arquitetura, valor histórico e cultura local. Muitos, é claro, procuram um pouco de cada. Apesar de agregar todas as faixas etárias, o público interessado em conhecer a cultura de um determinado local possui algumas características em comum: nível de formação alto, interesse por aspectos como gastronomia tradicional, preocupação ambiental e disposição para se aprofundar em detalhes sobre os pontos de interesse. Ávidos por sentir a ‘cor local’, eles querem interagir com os moradores e ter acesso a informações sobre acontecimentos e personagens históricos. Esse mergulho na história cria oportunidades que o profissional de turismo pode aproveitar, ampliando a oferta de serviços e desenvolvendo novos produtos, como:
- Restaurantes dedicados à gastronomia tradicional e Artesanato local;
- Visitas a casas onde viveram personalidades históricas locais, acontecimentos e fatos impactantes e curiosidades que costumam ficar de fora de livros didáticos;
- Conversas com habitantes locais mais antigos, testemunhas visuais de outra época, programações de entretenimento e visitas às comunidades tradicionais e/ou étnicas, sítios arqueológicos e ou/paleontológicos, lugares místicos ou esotéricos, visitas gastronômicas, passeios, cinemas e teatros, entre outros;
- Eventos culturais, observando as tendências de mercado e estabelecendo sintonia com a identidade local;
- Visitas a locações de filmes, minisséries ou novelas, que podem despertar o interesse do turista;
- Hospedagem domiciliar, modelo de hospitalidade onde o turista pode experimentar e observar o modo de vida da comunidade, proporcionando uma ótima forma de vivência cultural.
Diante de todo esse contexto, é possível afirmar que o Brasil está vencendo o desafio de preservar sua cultura e história mesmo diante das contradições dos tempos atuais? O que falta para o Brasil avançar na expansão do turismo histórico-cultural? Será que falta segurança, infraestrutura, investimento, criatividade, parcerias? Como a sociedade tem participado na construção de estratégias que permitam a melhor exploração de tais potenciais? As comunidades locais abraçam esse turismo como atividade econômica importante para os moradores locais? Os setores público e privado estão em sintonia com suas iniciativas?
Quais casos de sucesso de outras regiões poderiam ser trazidos para essa discussão? Para refletir sobre esse tema, o painel AGENDA TURISMO do Protagonismo Regional em Debate promoveu no programa de 03 de julho, o penúltimo programa da série: DESAFIOS DAS CIDADES HISTÓRICAS | De São Vicente a Ouro Preto. Que recebeu como convidados: Maria Margareth Monteiro | Secretária de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto, MG; Paulo Roberto Bonavides | Secretário de turismo de São Vicente SP com comentários de Elizabeth Correia | Arquiteta e Urbanista.
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SOBRE OS CONVIDADOS
MARIA MARGARETH MONTEIRO | Historiadora e promotora Cultural, atuou por mais de 30 anos no museu da inconfidência Mineira, acumulando experiencia em atividades culturais, artísticas e de educação patrimonial, e na Comissão de Preservação do Meio Ambiente e Sustentabilidade, atualmente ocupa o cargo de Secretária de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto MG.
PAULO ROBERTO DUARTE BONAVIDES | Graduado em Direito no ano de 1993, pela Universidade Metropolitana de Santos. Mestre em Direito pela Universidade Metropolitana de Santos. Pós-graduado em Gestão Pública no ano de 2015, pela Universidade Federal de São Paulo. Professor Universitário desde o ano de 1998, nas Faculdades de Direito da Universidade Católica de Santos e Universidade Metropolitana de Santos. Diretor da Câmara de Cubatão no biênio de 2011/2012 e 2013/2014. Secretário de Auditoria e Controle Interno da Prefeitura de Cubatão nos anos de 2014/2015. Diretor da Câmara de Santos nos anos de 2015/2017, foi Secretário Adjunto de Assuntos Jurídicos da Prefeitura de São Vicente nos anos de 2017/2020 e Secretário de Comércio de São Vicente no ano de 2020. Como Diretor da Câmara, devolveu aos cofres públicos mais de 27 milhões de duodécimo, atualmente ocupa o cargo de Secretário de Turismo de São Vicente.
ELIZABETH CORREIA | Arquiteta, Foi Secretária de Planejamento de São Vicente; Coordenadora do Departamento de Apoio e Desenvolvimento às Estância (DADE) da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, hoje DADETUR; Coordenadora de Ensino Superior do Estado de São Paulo; Subsecretária de Ciência, Tecnologia e Inovação na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo; atualmente está na Secretaria de Habitação de São Vicente. Participando de grupos de trabalhos na área de Turismo, Geração de Empregos entre outros.
SOBRE O PROGRAMA
A Plataforma Protagonismo Cidadão, iniciativa não governamental e apartidária, é uma rede apoiada por empresas, comunidade acadêmica e terceiro setor, fundada com objetivo de apoiar a iniciativa cidadã como verdadeira protagonista do desenvolvimento da sociedade. Nossa plataforma se autodefine como uma visão, selo e canal de informação. Uma Plataforma de Conteúdo, um Clube de Negócios e um Canal de Comunicação.
ENTREVISTAS E DEBATES SOBRE A REGIÃO
O programa Protagonismo Regional em Debate é uma produção da equipe de comunicação da Plataforma Protagonismo Cidadão em parceria com os estúdios Telavip Digital e teve seu primeiro programa veiculado em 30 de maio de 2020.
Com duração de 60 minutos, as entrevistas e debates com especialistas e lideranças de setores diversos são pautadas na identidade e vocações econômicas da região. As transmissões são feitas ao vivo pelas plataformas digitais da internet (Lives), com apresentação e condução das entrevistas feitas por Sérgio França Coelho e Lúcia Helena Cordeiro, consultores organizacionais e fundadores do Protagonismo Cidadão.
PARTICIPAÇÃO CIDADÃ NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO
O objetivo central dos debates é colaborar com a retomada do protagonismo político e econômico da região no cenário nacional, através da melhor exploração de suas vocações, e na criação de uma cultura de participação mais proativa da sociedade sobre temas ainda hoje circunscritos às áreas política, empresarial e estatal.
CANAIS DE TRANSMISSÃO
Para atingir estes propósitos, este projeto tem apostado em estratégias multiplataformas de redes sociais (canais do Youtube, Facebook e Instagram do Protagonismo Cidadão e do jornal Diário do Litoral), utilizando linguagem atraente a diferentes públicos, mas com foco especial no público de 35 a 55 anos, disposto ao debate crítico quanto aos desafios da vida nas cidades.
CONTEUDOS RELACIONADOS
DESAFIOS DAS CIDADES HISTÓRICAS | Restaurações e Ocupações Sustentáveis